Com a volta da inflação, o Tesouro conseguiu vender R$ 30,3 bilhões em títulos indexados

TRIBUNA DA INTERNET | Pressão internacional pode causar estragos na luta  contra a inflação em 2018

Charge do Alves (Arquivo Google)

Rosana Hessel
Correio Braziliense

O clima externo mais favorável, com as bolsas internacionais subindo diante da expectativa da aprovação de um novo pacote fiscal pelo governo dos Estados Unidos, e a expectativa de preços cada vez mais altos após o reajuste na tarifa de energia contribuíram para que o Tesouro Nacional conseguisse vender integralmente o lote de 8 milhões de NTN-B — títulos indexados à inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — no leilão realizado nesta terça-feira (1º/12), arrecadando R$ 30,3 bilhões.

Conforme os dados do Tesouro, os títulos NTN-B com vencimento em 15 de maio de 2023 incluíram uma taxa de juros real — acima da inflação — de 1,017% ao ano, valor abaixo do contratado anteriormente. Em 3 de novembro, o órgão vendeu 5 milhões desse mesmo papel com taxa adicional ao IPCA de 1,26% ao ano.

BOA DEMANDA – “O leilão foi bem-sucedido. Houve uma boa demanda pela oferta dos títulos do Tesouro e, como os juros reais foram menores do que o último leilão, o governo ainda conseguiu reduzir o custo de carregamento para o papel”, avaliou o economista-chefe da JF Trust Investimentos, Eduardo Velho, em entrevista ao Blog.

“A curva de juros mais curta teve um alívio pontual, com o exterior ganhando impulso com o otimismo para a liberação do pacote fiscal dos EUA. Mas, no Brasil, a agenda fiscal precisa andar para destravar a curva longa. As previsões de inflação de 2020 passam para mais de 4%”, destacou.

 

Pelos cálculos do economista da JF Trust, as pressões inflacionárias, após o reajuste na conta de luz anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), devem aumentar as projeções em 0,4 ponto percentual, “levando as estimativas anteriores do IPCA de 2020 subirem para algo entre 4,10% e 4,20%. Apesar do aumento, a inflação ainda deverá dentro o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual da meta, de 4%”, afirmou.

DÍVIDA EM ALTA – Vale lembrar que a dívida pública bruta está em uma escalada, alcançando 90,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em outubro, e deverá continuar subindo pelas projeções do mercado. Não à toa,  o risco país do Brasil medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco ano, está em 165,2 pontos, patamar acima da Grécia, que tem o mesmo rating do Brasil, de 113,30 pontos.

“A questão fiscal é muito importante daqui para frente para determinar o comportamento no mercado dos juros futuros. Qualquer sinalização do governo de que haverá piora no controle das contas públicas fará os juros futuros subirem cada vez mais e, com isso, o Banco Central será obrigado a voltar a subir a Selic (taxa básica da economia)”, destacou Eduardo Velho.