O capitão se autodevora. Por Jose Adalbertovsky Ribeiro

comentarista Por José Adalbertovsky Ribeiro – Jornalista e escritor

MONTANHAS DA JAQUEIRA – O governo do capitão segue em processo de autofagia. De grão em grão, de degrau em degrau, as cabeças estão sendo devoradas. O ritual começou com o general Santos Cruz e mais recentemente o ex porta-voz do governo, general Otávio Rego Barros, defenestrado sem misericórdia, lança uma carga explosiva nos flancos governistas: “O poder inebria, corrompe e destrói” . Faz lembrar as palavras de Brás Cubas, filho espiritual de Machado de Assis, sobre “o vinho enérgico do poder”, causador de vertigens, delírios e desilusões.

Quantos prefeitos bolsonaristas serão eleitos nas capitais ou cidades de grande porte? Zero. A popularidade do auxilio emergencial é nuvem passageira.

O título do torpedo do general é explosivo: “Memento morri”, lembra-te que és mortal, tradução do latim. Os vassalos do capitão imaginem que o poder é eterno. A mundiça da seita vermelho também acreditavam que o poder era eterno. Ambos esquecem a sentença proverbial de que todo poder é efêmero. “Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas dos seguidores de ocasião”.

Movido pela soberba o governo se arvora no direito de fazer tudo errado para dar tudo certo. Em comunicação existem fatos e existem versões. As versões não precisam pedir licença ao governo para se espalhar no meio do mundo.

O governo vem de uma sucessão de desfeitas com os aliados de origem, a começar pelo general Santos Cruz, o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que morreu sendo difamado, a deputada Joice Hasselman, o valente deputado Luciano Bivar. Não se venha chamar a todos de traidores, o governo é que está traindo as bandeiras de campanha, a começar pelo ideário de combate à corrupção. Os vermelhos estão adorando.

As bandeiras agora são monopolizadas pelos tais “garantistas” do Centrão. “Garantismo é a impunidade que não ousa dizer o próprio nome. Prisão dos grandes corruptos somente na milésimo instância. Houve tempo, na operação LavaJato comandada pelo juiz Sergio Moro, em que grandes corruptos foram trancafiados na cadeia. O capitão embarcou na popularidade de Moro para ser eleito sob a bandeira de combate à corrupção. Moro hoje é hostilizado e chamado de traidor. O nome disto é estelionato ideológico  e traição institucional.

Os grandes corruptos agora desfilam em campanha eleitoral com tornozeleiras eletrônicas de grife. Os pobres continuam sendo presos em primeiríssima instância, ou na instância zero.

Convém não confiar na passividade dos bovinos. O estouro da boiada é uma curva ascendente.  Assim aconteceram em tempos idos a onda vermelha e a bola de neve contra a seita vermelha. Novas ondas fazem parte do imponderável. Em processo de autofagia, devorando a si mesma ao detonar aliados, a nova seita do capitão alimenta novas ondas que poderão levá-la ao naufrágio.