Dória ataca Bolsonaro e diz que esperança está na Anvisa

 

Por Hylda Cavalcanti

Está instalada uma nova crise política no país, desta vez em torno de qual a vacina que vai ser comprada para imunizar a população contra o coronavírus quando os vários estudos e testes que estão sendo feitos ficarem prontos. Envolvido até o pescoço no apoio aos Estados Unidos ante a guerra fria que este país trava com a China, o presidente da República Jair Bolsonaro desautorizou a fala do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Pazuello tinha assinado documento para compra da vacina CoronaVac – que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Além da questão diplomática de apoio à política de Donald Trump, Bolsonaro também pretende avaliar outras opções como confronto ao governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que tem travado vários embates com ele nos últimos meses por conta da pandemia.

No último, Dória disse ser favorável à obrigatoriedade da vacina para a população, tese que o presidente é contra. “Não compraremos vacina da China e no meu governo não se mantém diálogo com João Dória sobre covid-19”, afirmou o presidente.

O caso fez Dória desembarcar hoje em Brasília. Ele foi primeiro ao Congresso Nacional, onde ele distribuiu embalagens da vacina para parlamentares e pediu a Bolsonaro que “respeite” o seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e deixe a eleição de 2022 “para outro momento” – Dória é provável adversário de Bolsonaro na disputa pela presidência da República.

“Para que ter ministros dessa forma? Se é pra ser assim, se toda vez que um ministro opinar sobre algo for desautorizado, melhor fechar os ministérios”, alfinetou o governador.

Ao mesmo tempo, Dória criticou a oposição ao Executivo Federal que, segundo ele, também tem feito críticas à vacina chinesa. Ressaltou que o momento precisa ser de entendimento.

“Vamos salvar as vidas dos brasileiros, o momento é de lutarmos contra esse vírus e pela vacinação. Salve vidas, presidente Bolsonaro. Seja grande, tenha compreensão de que a vacina salva”, afirmou, para acrescentar que não é razoável o presidente adotar o “negacionismo”.

Na Anvisa

Doria também se reuniu com diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), onde entregou resultados de testes realizados pelo Butantan e tratou de detalhes técnicos sobre o processo de certificação da vacina do Butantan.

Depois de mais de duas horas de conversa, o governador disse que a esperança do país está na Anvisa e que apoia todas as vacinas que vierem a ser registradas. “Quero deixar claro que o governo de São Paulo apoia todas, a começar pela do Butantan, que há 30 anos é o maior fornecedor de vacinas para o Ministério da Saúde. Mas também respeito e confio na Fiocruz. A visão do governo de São Paulo é uma visão de Brasil. Buscamos a imunização de toda a população brasileira”, afirmou.

Sobre Pazuello, ele disse ainda que em vez de enfraquecer com o episódio, o ministro da Saúde “só se fortaleceu”. “Ele (Pazuello) assinou um documento confirmando a compra da vacina para 24 governadores. Os governadores estão todos frustrados com isso, mas reconhecem que o ministro tomou uma posição republicana, técnica e correta, numa visão de proteção à vida dos brasileiros. E falo isso em nome dos governadores”, frisou.

Sem comentar diretamente as declarações do governador de São Paulo, o presidente Bolsonaro disse que trabalha na busca de uma vacina confiável e que afirmações que não sejam neste sentido consistem em “especulação” e “jogo político”. Já o ministro da Saúde, que foi diagnosticado com covid, recupera-se em casa, afastado do trabalho.

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