O AMOR É UMA DANÇA, UM TANGO INSENSATO,PERENE. Por Flávio Chaves

Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc

Aqui, estou chegando, Recife, trazendo nas mãos um estandarte de um novo tempo e novo jeito de ver e olhar a paisagem. Ouvir a música que toca em ti e mim; as que tocam encharcadas de desobediência e fogem da pauta dos bem comportados, que não conhecem a loucura. Entrar na dança, entendendo cada passo que será dado sobre cada pedra de mosaico do salão da vida e da caminhada. Todo abraço, traz dentro de si, um coração amotinado, um perfume, um afago em brasas acesas e um sonho que pulsa alongado e interminável.
Sinto cheiro de perfume pelo ar. Traga-me garçom, uma dose por favor para quem já aprendeu a sorrir e chorar por amor. Gentileza, um drinque limpo sem nada. A saudade que venho dirá a temperatura do volume de ternura líquida a ser ingerida, nessa cena em que  assusta com o volume do meu olhar, de buscas e cansaços, tão quanto essa mala estufada de quem parte e não volta nunca mais, mesmo retornando.
E aqui cabe citar, amigo garçom, o nosso poeta Manuel Bandeira, em seu poema Lua Nova: ” Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir: Hei de aprender com ele a partir de uma vez – Sem medo, Sem remorsos, Sem saudade. Não pensem que estou aguardando a lua cheia – Esse sol da demência vaga e noctâmbula. O que eu mais quero, O de que preciso, é de uma lua nova…”.
Saio de Manuel Bandeira, o poeta, e levo meu estandarte para o passo de minha vida e sonho, em dança. Talvez euforia. Talvez algazarra. Recife é um corpo água, afeto e ouriço. Aqui nessa cidade, em que, alguns algozes se transformam em lobos uivando inveja e perseguição, querem destruir, aqueles que trilham desenhando a vida em frenesi e comunhão, ou mesmo, destruir também os boêmios que ousam beijar uma mulher que viveu com algum deles, um dia. Daí  procuram stalkear ou fazer impedimento de caminhos, revelam o seu mal caráter. A falsa moral e a cara feia, imaginando que faz medo. Esquece que quem assim se comporta, não passa de um cachorro que ladra com medo. Eles não se suportam ter o tempo regresso revelado; coisas que achavam secretas e sentiam donos de tudo. Caem em seu mundo vazio e viram fera sufocada. Vários lobos dentro de si, sem força alguma para uivar e assustar a lua e se assustam com a própria escuridão.
Garçom, amigo garçom, saiba que Recife é a Veneza do feitiço. Galés que navegam solene, dentro dos peitos que choram e cantam. O cais revela ao mundo o sonho estranho dos que sonham amar afoito. Descobre os que andam incendiados no encanto do desejo e se entrelaçam,  se atirando  na navegação de romances ensandecidos.
Põe outra dose, no mesmo copo, estou no tempo de chegada sem se saber aonde se vai. Tudo é antigo. E já assinei a carta em branco dessa madrugada e o contrato da banda que toca a vida.