Filho revela como foi a última conversa com Migliaccio

“Usei todos os meus argumentos, mas meu pai não queria mais jogar”, contou Marcelo Migliaccio

Flávio Migliaccio deixou carta de despedida em tom melancólico Foto: Divulgação

O jornalista Marcelo Migliaccio, filho do ator Flávio Migliaccio, revelou detalhes sobre a última conversa que teve com o pai. Em entrevista à revista Veja, ele contou que o pai estava cansado de viver.

– Numa de nossas últimas conversas, eu tentava, mais uma vez em vão, motivar aquele homem cansado, desiludido. ‘O mundo está um lixo’, ele me disse. Dias depois, ou antes, não me lembro, ele me deu outra razão para justificar seu desejo de sair definitivamente de cena: ‘Já não escuto direito, minha vista está falhando, a memória também. Daqui para frente só vai piorar. Já vivi demais. Oitenta e cinco anos. Chega’ – relatou Marcelo.

Ele disse ainda que tentou convencer seu pai a mudar de ideia.

– Fiz o que pude. Levei-o a quatro psiquiatras, mas ele não aguentou as bombas antidepressivas. Os psicólogos, ele sempre recusou. Dizia que passaria horas e horas falando, e o profissional jamais conheceria Flávio Migliaccio melhor que o próprio. Usei todos os meus argumentos, mas meu pai não queria mais jogar. Era uma decisão tomada, acho que muitos anos antes daquele domingo em que ele disse que daria uma caminhada pelo bairro e sumiu – falou.

No dia 4 de maio, Flávio foi encontrado morto em seu sítio, na cidade de Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro.

Ainda sobre o suicídio do pai, Marcelo disse que teve que discordar com um trecho da carta de despedida deixada pelo ator.

– Só não posso concordar com uma frase escrita por ele na carta de despedida, a de que seus 85 anos não valeram de nada. Para muita gente, e especialmente para mim, cada olhar, cada sorriso e cada lágrima foram fundamentais. Do meu nascimento até a última vez em que o vi naquela tarde de domingo, sempre me orgulhei do meu pai. Mesmo ele tendo saído sem se despedir de mim. Passou por onde eu estava na sala sem me olhar, bateu levemente duas vezes nas costas da minha mãe e disse, já consciente do que iria fazer: ‘Eu vou andar, tchau, tchau’ – contou.