Pedro do Coutto
Em apresentação na tarde de ontem pela Globonews, a jornalista Miriam Leitão afirmou que ontem, sexta-feira, o governo Bolsonaro chegou ao fim. A opinião foi emitida horas antes do pronunciamento do presidente da República sobre o episódio Sérgio Moro. Na minha opinião, baseada nos fatos, o atual governo ingressou em sua fase final, tantas as contradições e afirmações contidas em sua versão relacionadas com a saída de Maurício Valeixo.
O presidente da República misturou situações que nada tinham a ver com o caso. Falou até, não sei por que, ter desligado o aquecimento da piscina olímpica que se encontra em sua residência oficial. Motivo: economia.
VERSÃO AMALUCADA – Porém a afirmação mais agressiva foi proferida pelo presidente da República atribuindo a Sérgio Moro uma declaração vinculando a substituição do diretor da Polícia Federal à sua indicação, em novembro, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Este ponto, a meu ver, vai se transformar em uma outra versão, permitindo a Sérgio Moro o direito de pronta resposta. Sérgio Moro, não tocou nesse assunto, penso eu. Tampouco relacionou uma condição à outra.
Bolsonaro afirmou ter direito a nomear o diretor geral da PF. Claro, mas a Polícia Federal está subordinada ao ministro da Justiça e, portanto, qualquer nomeação tem que ser previamente apresentada ao titular da Pasta.
Outra surpresa foi Bolsonaro solicitar ao Procurador Geral da República a abertura de inquérito para apurar as declarações de Sérgio Moro feitas na manhã de ontem. Inquérito para que? Não há necessidade de inquérito tampouco de qualquer investigação. É só juntar as afirmações de Moro e se assim pensar, propor um processo.
PRÓXIMOS CAPÍTULOS – As contradições de Bolsonaro certamente vão ser expostas nos próximos capítulos. Mas um fato o governo não poderá ocultar. O vínculo da substituição de Valeixo com as investigações sobre as fake news e sobre a identificação de quais pessoas e empresas financiaram o comício em frente ao QG do Exército.
E o clima esquentou no início da noite quando o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que os delegados da PF que investigam as fake news na internet não podem ser substituídos até o final de seu trabalho. Alexandre de Moraes é o relator da ação que corre no Tribunal a respeito do episódio.
O pronunciamento do presidente da República ficará na história do Brasil como um dos mais desconcertantes e contraditórios de que se tem notícia nas últimas décadas.