Reduzir salários e liberar preços pode conduzir o país a uma grave crise social

Redução de salário e jornada de servidores deve ser permitida? | A ...

Charge do Amarildo (Arquivo Google)

Pedro do Coutto

O título desta matéria creio destaca uma síntese do problema que está atingindo a população brasileira e ainda vai afetá-la muito mais no correr do tempo. O governo Bolsonaro estabelece um congelamento salarial, ao mesmo tempo que propõe redução de jornada de trabalho e de vencimentos (salários) na mesma proporção. Entretanto, libera os preços, e se a corrida desigual permanecer, o consumo vai sofrer as consequências pela impossibilidade de se equilibrar uma coisa com a outra.

Pesquisa do Datafolha, comentada por Ricardo Baltazar, Folha de São Paulo desta quinta-feira, destaca que 69% dos que trabalham estão prevendo uma perda de renda.

PESSIMISMO AUMENTA – A preocupação torna-se mais evidente quando a pesquisa compara o índice de março com o de abril. Em março a preocupação era de 57%, já muito alta, a de abril como citamos agora é de 69%, aumento de 12 pontos no espaço de um mês.

Ricardo Baltazar acentua que a preocupação é maior entre os mais pobres, ou seja, aqueles que ganham até 2 salários mínimos por mês, ou seja 2.090 reais. O que impressiona é que a faixa entre um e dois salários mínimos abrange metade dos trabalhadores do país, envolvendo 50 milhões de assalariados.

BANCAR CONTAS DE LUZ – Uma outra matéria, esta de Júlio Wiziack, revela que o Ministro Paulo Guedes admite bancar as contas de luz de aproximadamente 9,4 milhões de famílias carentes, pelo prazo de 3 meses.

Como se vê, uma contradição sob o ângulo da escola liberalista. Ao mesmo tempo em que defende a estagnação salarial, o governo Jair Bolsonaro aceita estatizar o consumo de energia. Aliás, 9,4 milhões de famílias corresponde a cerca de 36 milhões de pessoas.

ELEITORES ARREPENDIDOS – Enquanto isso, na mesma edição da Folha, Felipe Bachtold, também com base no Datafolha, comenta o fato de 17% dos que votaram em Jair Bolsonaro encontram-se arrependidos e lamentam terem votado no presidente.

Em todo o país a reprovação ao  presidente da República eleva-se a 63%, mais entre estes, digo eu, encontram-se aqueles que votaram em Fernando Haddad, candidato do PT. Portanto os bolsonaristas não devem levar em conta os 63%, mas sim os 17% perdidos pelo governo Bolsonaro.

TENDÊNCIAS DEFINIDAS – Por que eu digo isso? Porque as pesquisas apresentam tendências definidas e os apoios perdidos dificilmente serão revertidos, a menos que surjam no horizonte medidas que podem ir ao encontro de seus interesses pessoais.

É certo que, com esses resultados das pesquisas, alguma sinal de alarme deve ter soado não comente no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios, como também, foi acendido na opinião pública.