A 1ª Volta ao Mundo e o Recife. Por Francisco Dacal

  Por FRANCISCO DACAL – Escritor e administrador de empresas

Recife, cidade lendária. Assim escreveu Capiba na inolvidável canção. Possuindo importantes dados históricos, mais um vem-lhe marcar – foi uma das duas cidades brasileiras escolhidas, a outra foi a do Rio de Janeiro, para fazer parte do roteiro oficial de comemoração dos 500 Anos da 1ª Volta ao Mundo, comandada pelo navegador português Fernando de Magalhães, sob os auspícios da Coroa espanhola e de comerciantes sevilhanos, e, já no trajeto de volta pelo Oceano Pacífico, após a morte deste em um combate com nativos das Filipinas, concluída sob o comando de Juan Sebastián Elcano, navegador hispânico.

Há quem considere o desafio da circunavegação como a maior odisseia da humanidade, em todos os tempos. Tem muito sentido, a assertiva. Stefan Zweig, no livro Magallanes, El hombre e sua gesta, escreveu que esta aventura “foi talvez a viajem marítima mais terrível e cheia de privações que registra a eterna crônica da dor humana, e da humana capacidade de sofrimento que chamamos história”.

Imaginemos o burburinho em Sevilha nos dias que antecederam a viagem. E o clima, e as emoções das despedidas no dia da partida. Estariam indo para o nada?. A incredulidade era geral, mas não para o comandante Magalhães, um visionário. No dia 10 de agosto de 1519, cinco naus desfraldaram as velas, San Antônio, Victoria, Santiago, Concepción e Trindad, e seguiriam pelo Rio Guadalquivir em direção ao Oceano Atlântico em busca do objetivo traçado de chegar às Ilhas Moluscas (hoje Indonésia) pelo ocidente, a grande produtora de especiarias, abrindo uma rota comercial própria. Na frota, 237 tripulantes, marinos aventureiros, com os destinos na glória e nas mãos de Deus; dentre eles, como relator de viagem, o italiano Antonio Pigafetta, para fazer os registros dos acontecimentos.

Depois de atravessarem o Oceano Atlântico, explorando diversas partes, no dia 21 de outubro de 1520 adentraram no que hoje é o conhecido estreito de Magalhães, no extremo sul do continente. Foi a pior fase da viajem, navegando, por 600 quilômetros, num ambiente sombrio, em águas profundas, com correntezas, tempestades e rochas, além de ter de enfrentar motins e mortes, acidentais e por doenças. Após alguns meses em condições aterrorizadoras, por fim encontram a ligação com o oceano a quem Fernando de Magalhães veio a chamar de Pacífico, sendo o primeiro a cruzá-lo, com muitas descobertas e legados.

No dia 8 de setembro de 1522, três anos após a partida, chega de volta a Sevilha a nau Victoria, sob o comando de Elcano, com apenas 18 homens frágeis e famintos, carregada de cravo, canela, noz moscada e gengibre, a única, das cinco, o que restou da grandiosa aventura por 42.000 milhas marítimas. Pigafetta registrou no final de seu diário: “A fama de Magalhães será eterna”.

Em homenagem a este feito, vindo de Montevidéu, atracou no Porto do Recife, na tarde da quarta-feira do dia 30 de janeiro passado, o Navio-Escola da Armada espanhola Juan Sebastián Elcano, que logo recebeu a bordo o governador do Estado de Pernambuco, Paulo Câmara, foi dar as boas vindas à tripulação, ressaltando a importância do fato. À noite houve uma recepção na nave, quando o Comandante, Capitão de Mar e Guerra, Santiago de Costa Truebas, e o Embaixador da Espanha no Brasil, Fernando García Casas, falaram do significado para o mundo e sobre a ideia de globalização resultante da circunavegação, e da importância, no contexto histórico e contemporâneo, do nosso país, oferecendo um brinde a todos.

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