Milícias, uma epidemia a ser evitada. Por Fabianna Freire Pepeu

É bem menos importante, neste momento, se os irmãos Gomes agem ou não de maneira autoritária no Ceará e são intempestivos, do que a evidente disseminação de um comportamento miliciano entre os policiais da nossa região.

Foto Exame
Nordestinos, porque esse é o meu lugar de fala e ele inclui uma retroescavadeira, o Cid Gomes não é alguém por quem eu nutra a menor simpatia. Ciro, na mesma linha, e até abro exceção pra citar o nome dele, porque, em inúmeras situações, ele, infelizmente, apesar de muito inteligente e destemido, prestou grande desserviço ao Brasil em função do seu ego sem limites e seu modo desagregador. Mas numa guerra não tem essa baboseira de gosto, não gosto e com esse ou essa eu não ando junto nunca mais.
É bem menos importante, neste momento, se os irmãos Gomes agem ou não de maneira autoritária no Ceará e são intempestivos, do que a evidente disseminação de um comportamento miliciano entre os policiais da nossa região.
Os vídeos mostrando a ação desses marginais no Ceará, nos últimos dias, devem ser levados muito a sério. As cenas lembram episódios que eu só vi em países muito distantes do nosso. Muitas vezes, mesmo antes da eleição de Bolsonaro, eu citei o nome de Duterte. Pra quem nunca teve a curiosidade de procurar saber quem é Rodrigo Duterte, explico superficialmente aqui: ele é presidente das Filipinas e é responsável pela prisão, tortura e morte ilegais de milhares de pessoas.
Nossa realidade não é parecida com a das Filipinas. Mas a violência lá praticada e essa linha tênue, que separa um servidor público pago com dinheiro dos nossos impostos (policial) e um miliciano (bandido), são.
Na semana passada, um outro episódio na Bahia (o assassinato de Adriano Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro) mostrou que a polícia não está seguindo protocolo nenhum de Segurança Pública, mas apenas utilizando o aparato policial (fardamento, veículos, armas e tecnologia de rastreamento) para fazer o que quer e bem entende ou o que lhe é solicitado por uma chefia que não mostra o rosto.
Não há no Nordeste, no momento, nada mais perigoso do que a disseminação dessa prática miliciana. A violência da PM em São Paulo, mas, neste caso, com concordância de Doria (letal até o último grau) que todo dia vai pra TV abalizar e justificar a corporação, também é digna de nota.
Acredito que, no nosso caso, no Nordeste, há orquestração misturada ao empoderamento que o delinquente do Bolsonaro e seus filhos inflaram nesses policiais-marginais.
É urgente que os governadores do Nordeste, região que disse um sonoro não à eleição presidencial de um político mentiroso, manipulador e ligado às milícias do Rio de Janeiro, atuem em bloco, evitando que essa epidemia se espalhe como um coronavírus. É também muito importante que, nós, da ala progressista, esqueçamos nossas diferenças, repito, e marchemos juntos — com uma retroescavadeira ou com qualquer carrinho de mão que seja — contra a instalação de um novo nível de barbárie.
Digo novo nível porque  desde o dia 1 de janeiro de 2019 — com a ajuda de jornalistas de grande destaque, e muitos e muitas só agora perceberam o que estava em curso, além de toda a grande imprensa, enquanto empresa de comunicação — já deixamos pra trás a Democracia e o rascunho de civilização que estávamos, muito embrionariamente, aprendendo a construir.
Fabianna Freire Pepeu é jornalista. 
Fonte: GGN

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