Vinícius Passarelli
Estadão
Parlamentares que tentam se firmar como defensores da Lava Jato e do combate à corrupção dizem ver o ministro Sérgio Moro fortalecido após a polêmica sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública no fim de janeiro. Eles buscam se afastar de Bolsonaro e criticam ações do Executivo que podem afetar o combate à corrupção.
Parte dos “lavajatistas” integra o Podemos, que, durante o recesso, entrou com três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra medidas aprovadas pelo Congresso e sancionadas por Bolsonaro vistas como ataques a avanços da Lava Jato: o juiz de garantias, o fundo eleitoral e a lei de abuso de autoridade. “São ações nossas que divergem da ação do governo”, disse o senador Alvaro Dias (PR), líder do Podemos e candidato derrotado à Presidência em 2018.
“DEIXANDO A DESEJAR” – Segundo o deputado José Nelto (Podemos-GO), líder do partido na Câmara, Bolsonaro está “deixando a desejar” na agenda de combate à corrupção. Além da criação do juiz de garantias, ele citou como exemplos a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da alçada de Moro e a tentativa do presidente em interferir na troca de comando da Polícia Federal.
“O Podemos não é governo, não tem cargo no governo. Somos um partido legalista”, afirmou. “Sinto que tem gente na Câmara, no governo e no Judiciário querendo abafar e acabar com a Lava Jato.” Apesar de tentar se distanciar de Bolsonaro, o Podemos acompanhou o governo na maior parte dos projetos.
Segundo o Basômetro, ferramenta do Estado que mede o grau de governismo de parlamentares e partidos, o Podemos votou favoravelmente ao governo em 82% das votações na Câmara no ano passado.
DESTINO DE MORO – Frequentemente, o Podemos é especulado como um possível destino de Moro caso o ministro decida se filiar a algum partido. Dias refutou que haja tratativas. “Queremos ajudá-lo a cumprir uma missão e a executar um projeto de combate à corrupção do País. Não queremos atrapalhar, então nunca especulamos”, disse. “Evidentemente, se um dia o ministro cogitar se filiar a algum partido será muito bem-vindo”, afirmou.
Segundo o cientista político da UFMG Felipe Nunes, a atuação dos parlamentares pró-Lava Jato tem, como pano de fundo, as eleições. “Os deputados e senadores do Podemos têm uma agenda de segurança pública muito voltada à sua base”, disse. Para Nunes, há uma tentativa do partido de atrelar sua imagem ao ministro da Justiça. “O Moro é um rival como liderança política ao presidente Bolsonaro e ele tem se transformado em um ator blindado por certos grupos.”
Outro senador alinhado à pauta anticorrupção e ao ministro Moro, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também criticou o movimento de tentar separar a Segurança Pública do ministério do ex-juiz. “Sem dúvida nenhuma atrapalharia porque você tem uma estrutura que está funcionando e está dando resultado e vai gastar energia e dinheiro para criar uma nova estrutura”, afirmou.
REDE SOCIAIS – Apesar de ter gerado críticas de deputados e senadores “lavajatistas”, a iniciativa aventada por Bolsonaro de esvaziar a pasta de Moro não gerou grande repercussão negativa no Twitter.
Levantamento feito pela Consultoria Quaest, a pedido do Estado, mostra que no dia 23 de janeiro, quando o presidente deu a declaração de que a medida estaria sendo estudada, houve picos de menções ao assunto segurança pública entre parlamentares “lavajatistas”, principalmente do Podemos, mas uma potencial onda críticas ao presidente foi contida.
EM DEFESA – Membros “bolsonaristas” do PSL, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF) saíram em defesa de Bolsonaro e fizeram o nome do presidente ser mais mencionado que o próprio assunto da cisão das pastas. A principal estratégia utilizada foi atribuir a sugestão aos secretários estaduais de segurança e governadores.
A declaração de Bolsonaro de que a separação da Segurança Pública da pasta da Justiça seria estudada pelo governo foi dada após ele ter se reunido com secretários de segurança dos Estados.