Pouco resta do lindo Chalé do Prata

Datado de 1842 e tombado desde 1991, o Chalé do Prata está em situação cada vez pior: já não tem portas, janelas, telhado, piso de madeira nem os terraços laterais que arrematavam sua construção, em estilo inglês. Situado à margem do Açude do mesmo nome, dentro do Parque Estadual de Dois Irmãos, a edificação fica em uma das áreas mais bucólicas do Recife, um dos poucos remanescentes urbanos de Mata Atlântica. E tem grande importância histórica: foi a sede da Companhia de Abastecimento Beberibe, primeira responsável por levar água encanada à população do Recife.

A água potável, no entanto, não chegava às residências, mas em chafarizes distribuídos nos bairros do Centro, o primeiro deles o da Boa Vista, então habitado pela classe média da cidade, formada ali sobretudo de comerciantes, que mantinham residências e negócios em localidades como a Rua da Imperatriz, do Aragão e Praça Maciel Pinheiro, hoje também relegada à decadência. No chafariz havia até inscrição, agradecendo a chegada da  água do Açude do Prata e a aqueles que “o civilizam”. Ou seja, além de bonito, o conjunto – chalé e açude – têm história de sobra. O açude foi o primeiro manancial usado para abastecer o Recife, no início do século 19. E o solar, era a sede da “Compesa” daqueles tempos, formada em  sua maioria por técnicos estrangeiros já que dois séculos atrás, o Recife carecia de know how sobre o assunto. O Chalé do Prata tem influência da arquitetura inglesa. Mas apesar de sua história, vejam, ao lado, como está sua situação.

O prédio histórico encontra-se abandonado. E, pior, vandalizado.  Poderia ser uma grande atração turística, nesses tempos de turismo ecológico com tantos adeptos, pois até chegar lá, o visitante precisa andar por trilha em meio à vegetação exuberante da  Mata Atlântica. Os ingleses foram os primeiros executivos que atuaram na área do abastecimento naquela época, em um Recife onde as águas para uso doméstico eram captadas em rios, riachos ou poços. Daí o motivo por ter o chalé o estilo inglês. A partir da Beberibe, a água começou a ser recolhida em chafarizes.  O chalé fica de frente para o Açude do Meio e um dos lados dá para o Açude do Parta. Possui dois pavimentos,  tinha dois terraços laterais sustentado por pilastras (que já desabaram) e até o seu  piso de madeira de lei foi corroído pelo tempo. Também ruiu o seu telhado, como se observa na foto acima.

Sua restauração vem sendo anunciada desde 2017, e incluiria a implantação do Museu da Água, o que seria uma boa, já que em pleno século 21, a escassez da água é tema de preocupação de autoridades e ambientalistas.  O casarão, se reformado, iria funcionar como base da policia ambiental e da administração do Pedi.  A área pertenceu à Compesa, mas foi repassada ao estado desde 2014.  O imóvel, que teria 500 metros quadrados se estivesse completo, é tombado desde 1991. O #OxeRecife já noticiou várias vezes a restauração do Solar. Mas, de fato, nunca aconteceu. Ficou tudo na promessa. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas) – responsável pelo Pedi –  informa que que está em andamento a contratação de empresa especializada para elaborar os projetos executivos e complementares da obra. Pelo visto, o início dos trabalhos ainda vai demorar.  Leia a nota enviada ao #OxeRecife pela Semas:

“Em dezembro de 2019, foram transferidos recursos de compensação ambiental na ordem de R$ 221.641,79 (duzentos e vinte e um mil, seiscentos e quarenta e um reais e setenta e nove centavos) para Semas realizar o processo de licitação para a contratação da empresa de consultoria especializada para a elaboração desse projeto executivo. A transferência do recurso se deu com publicação no Diário Oficial do Estado de Pernambuco do dia 7 de dezembro de 2019, após Acordo de Cooperação entre a Semas e a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e deliberação da Câmara Técnica de Compensação Ambiental (CTCA). O casarão, que é um patrimônio histórico tombado, está inserido numa área de preservação ambiental de uso restrito: a Unidade de Conservação Estadual Parque Dois Irmãos. Vale ressaltar também que o chalé fica à frente de um importante manancial usado para captação e abastecimento de água da população do Recife. Por isso, foi observada a necessidade de revisão do projeto de forma a garantir que as obras causem o menor impacto ambiental”.

As fotos desse post são de Antônio Gomes da Silva Neto, amigo e leitor do #OxeRecife que visitou o local recentemente, em companhia de historiadores e da guarda do Pedi. Antônio costuma pesquisar edificações antigas do Recife. E ficou estarrecido com a situação do chalé. “Lamentável”, disse. Vamos torcer para que a burocracia do Estado corra rápido. Caso contrário, o solar vai desabar de vez. O que tornaria a situação ainda mais lamentável.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Antônio Gomes da Silva Neto/ Cortesia

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