Moro ameaçou deixar o governo se Bolsonaro recriasse o Ministério da Segurança

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Entrevista no Roda Viva despertou uma ciumeira danada

Bela Megale e Eduardo Bresciani
O Globo

Quem conhece o ministro Sergio Moro sabe que estar à frente da pasta de Segurança Pública foi uma das condições para ele ter aceitado compor o governo de Jair Bolsonaro. Para Moro, manter a agenda de combate à corrupção e ao crime organizado é uma das prioridades de sua gestão e o ministro deixou claro que não abrirá mão disso.

A insatistação do ex-juiz com a proposta, no entanto, foi absoluta e poderia selar seu destino no governo. Após o presidente voltar ao tema nessa semana, Moro relembrou o caso a aliados.

UMA FORTE AGENDA – Ao aceitar ser ministro no governo Jair Bolsonaro, o então juiz da Lava-Jato Sergio Moro justificou sua decisão dizendo que tinha “a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado”. O fato de passar a comandar a área de segurança pública fez com que fosse chamado de “superministro”.

Ao admitir publicamente a possibilidade de retirar esse tema da alçada de Moro, Bolsonaro mais uma vez fez gesto para enfraquecer seu auxiliar mais popular. E o fez justamente na semana que começou com Moro sob holofotes, entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, o que aumentou a exposição do ministro — e possíveis ciúmes no Palácio do Planalto.

O ex-juiz também comemorou, nesta semana, uma vitória com a decisão do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, de barrar a lei que criou o juiz de garantias — sancionada pelo presidente.

BANCADA DA BALA – Bolsonaro teve sua carreira política como deputado bastante ligada à área de segurança. Expoente da bancada da bala, o então deputado teve de enfrentar seus aliados para recolocar a segurança pública subordinada à pasta da Justiça na formação de sua equipe. Então líder do partido do presidente, o senador Major Olímpio (PSL-SP) tentou inclusive alterar a Medida Provisória que tratava do tema no Congresso, tendo sido forçado a recuar na hora da votação da proposta.

O tema voltou com força ao radar do presidente em dezembro passado, como revelou O Globo. Além de atender sua base mais fiel, a ideia era achar um cargo para o ex-deputado Alberto Fraga, amigo de longa data de Bolsonaro que só não virou ministro até agora porque havia sido condenado duas vezes em primeira instância. Fraga conseguiu reverter uma das decisões e como a outra, que é um desdobramento da primeira, deve ser julgada nas próximas semanas, pode estar livre para ajudar o amigo presidente de forma oficial.

NÃO ERA FAKE NEWS -Em dezembro, Bolsonaro disse que a história era “fake news” e que já teria desmentido a possibilidade a Moro. Agora, um mês depois, o discurso mudou.

Bolsonaro afirmou ainda que a entrega da área de segurança para o ex-juiz não foi tratada quando o convite foi feito. O anúncio publicado por ele próprio na indicação de Moro, porém, em novembro de 2018, já contemplava essa atribuição para o subordinado.

O presidente retomou o debate público sobre o esvaziamento da pasta de Moro em reunião com secretários de segurança pública do país, que o Planalto decidiu transmitir ao vivo, algo pouco usual.

UM ESTRANHO PEDIDO – Os secretários fizeram o pedido de um ministério específico para a área, e Bolsonaro respondeu que estudaria o tema. Participaram da reunião os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Ramos (Secretaria de Governo) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). Moro estava em seu gabinete, a 600 metros do Planalto. O debate surpreende por ocorrer enquanto o governo comemora com entusiasmo números que indicam a redução de homicídios no país.

Sobre o chefe, Moro tem preferido o silêncio. Em entrevista nesta semana ao Roda Viva, atribuiu essa postura a um respeito à hierarquia. Bolsonaro, porém, procura testar de tempos em tempos até onde vai a resiliência do subordinado, desta vez ameaçando com um esvaziamento efetivo das suas funções.

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