‘Nossas vozes são cada vez mais ouvidas, mas isso não se traduz em ação política’, diz Greta Thunberg em Madri

Ativista chegou nesta sexta-feira de trem para a COP 25. Evento ocorre de 2 a 13 de dezembro. Participam representantes de quase 200 países.

Por Reuters

A ativista climática Greta Thunberg disse nesta sexta-feira (6) que as vozes dos jovens fazendo greves pelo clima estão sendo ouvidas, mas que os políticos continuam sem agir.

“Estamos ficando cada vez maiores, e nossas vozes estão sendo ouvidas cada vez mais, mas é claro que isso não se traduz em ação política”, disse Thunberg ao chegar em Madri, sede da COP 25, cúpula climática da Organização das Nações Unidas (ONU) que ocorre até 13 de dezembro.

Thunberg, que desencadeou um movimento global de protesto liderado por jovens depois de fazer greve diante do Parlamento sueco no ano passado, disse que pedir que crianças faltem à escola para protestar contra a inação dos governos no combate à mudança climática “não é uma solução sustentável”.

Não queremos continuar. Adoraríamos alguma ação das pessoas no poder”, disse. “As pessoas estão sofrendo e morrendo por causa da emergência climática e ecológica hoje, e não podemos esperar mais tempo.”

A ativista adolescente chegou de trem em Madri nesta sexta-feira para participar da conferência sobre o clima. Thunberg disse esperar que a rodada anual de negociações climáticas de duas semanas, que começou em Madri na segunda-feira (2), leve a “ações concretas” e que os líderes mundiais entendam a urgência da crise climática.

“É claro que não há vitória, porque a única coisa que queremos ver é ação real”, disse ela. “Então já conquistamos muito, mas se você olhar para isso de um certo ponto de vista não conquistamos nada.”

‘How dare you?’, ‘Como ousam?’

Em setembro, Greta Thunberg disse a líderes de 60 nações que sua infância foi roubada por “palavras vazias”. O discurso teve grande impacto .

“Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias”, disse Thunberg, que responsabilizou os adultos por não fazerem o bastante para proteger o meio ambiente.

A garota alertou para ecossistemas que entram em colapso. “As pessoas estão sofrendo. As pessoas estão morrendo.”

“Estamos no início de uma extinção em massa e tudo o que vocês falam gira em torno de dinheiro e um conto de fadas de crescimento econômico eterno. Como ousam?”

COP 25

A Organização das Nações Unidas (ONU) começou nesta segunda-feira (2) a cúpula do clima em Madri, a COP 25. O evento vai até o dia 12. Líderes mundiais enfrentam crescente pressão, especialmente de jovens em todo o mundo, para provar que podem evitar os impactos mais catastróficos do aquecimento global.

O que está em jogo: metas mais ambiciosas

  • A próxima década é um momento crítico para evitar a catástrofe global. No Acordo de Paris, o compromisso assumido foi de manter o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis da era pré-industrial até o fim do século – o mundo já está, em média, 1,1ºC mais quente. Estudos recentes da ONU dizem que a meta precisa ser ainda mais rígida.
  • A concentração dos principais gases do efeito estufa na atmosfera alcançou um recorde em 2018. A emissão de gases causadores do efeito estufa precisa cair me 7%, para evitar um aumento de temperatura de 3,2ºC.
  • Os dois maiores emissores de gases, Estados Unidos e China, apresentam posicionamento dúbio. O presidenteDonald Trump anunciou a saída do Acordo de Paris, adotado em 2015. A China vem assumindo discurso mais favorável ao combate ao aquecimento global, mas, na prática, constrói mais usinas de carvão.
  • Em Paris, 70 países se comprometerem a neutralizar emissões até 2050 – mas não os maiores emissores de gases. Isso significa que esses 70 países prometeram equilibrar as emissões de carbono com tecnologias de captura de gases ou plantando árvores, por exemplo, e atingir “emissões zero”.
  • Compromissos assumidos, no entanto, são voluntários. A ONU não tem mecanismos que obriguem os países a cumprirem as promessas assumidas no Acordo de Paris.
  • A COP 25 é a última conferência do clima antes da década de 2020. Restam dúvidas sobre como realizar a transição para energias limpas e, mais do que isso, como financiar esse processo.
  • O ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que vai cobrar recursos de países ricos na COP 25 para preservação do meio ambiente no Brasil. O Acordo de Paris prevê contribuições voluntárias dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento por meio de um fundo. No entanto, isso ocorre num momento em que a pauta ambiental do país vem sendo questionada: a Amazônia registra aumento no desmatamento e manchas de óleo atingem centenas de praias brasileiras, sem um culpado ou origem do óleo identificados.
  • O mercado de créditos de carbono atualmente funciona somente a partir de acordos entre empresas e governos, pois o sistema ainda não foi completamente implementado. Isso também será discutido na COP 25. Além disso, está previsto debater as operações de um fundo de US$ 100 bilhões para iniciativas de financiamento entre países.

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