Manobra do Twitter coloca Facebook em xeque

Ao banir publicidade política, a rede social abre mão de uma receita insignificante e eleva pressão sobre o seu maior concorrente, o Facebook

Manobra do Twitter coloca Facebook em xeque
Anúncio foi considerado uma manobra inteligente do CEO do Twitter, Jack Dorsey (Foto: Twitter/Jack Dorsey)

O anúncio do Twitter de que irá proibir a publicidade política em sua plataforma provocou uma série de pedidos para que o Facebook faça o mesmo. Mas a publicidade política não é uma área em que o Twitter investe, como demonstrado pela presença de apenas 21 anunciantes durante as eleições deste ano para o Parlamento Europeu.

Em uma manobra inteligente, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, cortou uma receita insignificante para aumentar a pressão sobre seu principal concorrente. Logo após o anúncio de Dorsey, o apoio à sua decisão partiu de organizações com perfis bem diferentes, como o Muslim Advocates, um grupo de ativistas de direitos humanos, e o instituto de pesquisa Open Knowledge Foundation, além do roteirista Aaron Sorkin.

Madihha Ahussain, uma das ativistas do Muslim Advocates, elogiou Dorsey por “reconhecer o grave problema da desinformação política, uma postura oposta à do Facebook”.

A diretora da Open Knowledge Foundation, Catherine Stihler, também elogiou a decisão do Twitter e pediu ao Facebook que adote medidas mais transparentes na divulgação de conteúdo. “Não podemos permitir que a desinformação prejudique as eleições no Reino Unido este ano, as próximas eleições na Europa e a eleição presidencial dos EUA em 2020”, disse Stihler.

Em um artigo no New York Times, Aaron Sorkin criticou Mark Zuckerberg por permitir “a divulgação de notícias falsas que confundem e induzem ao erro em decisões importantes”. O roteirista do filme A rede social, que descreveu a criação do Facebook, juntou-se ao coro de críticas à política da plataforma de divulgar desinformação em anúncios políticos.

“No momento, uma nota no Facebook alega que Joe Biden deu um bilhão de dólares ao procurador-geral ucraniano para não investigar seu filho. Não se trata aqui, Mark, de defesa da liberdade de expressão, e sim da divulgação de uma informação falsa”, escreveu Sorkin.

O anúncio de Dorsey, dado uma hora antes do início da videoconferência em que Zuckerberg iria mostrar aos acionistas os resultados financeiros do último trimestre do Facebook, aumentou ainda mais a pressão sobre a empresa.

Em um comunicado, Zuckerberg destacou que, como no Twitter, a publicidade política era uma fonte pequena de receita do Facebook. “Segundo estimativas, os anúncios representarão menos de 0,5% da receita do Facebook em 2020?, afirmou Zuckerberg.

Em uma longa defesa dos “princípios” da empresa, ele negou as acusações que as notícias divulgadas tinham um “propósito político cínico, para tranquilizar os conservadores”.

A decisão de Dorsey também foi alvo de críticas. O chefe da campanha digital de Donald Trump, Brad Parscale, disse que era “outra tentativa da esquerda de silenciar Trump e os conservadores”.

O Twitter enfrentou mais críticas ao dizer que a proibição se aplicaria não apenas a anúncios de candidatos políticos, mas também publicidade que aborda questões de “importância nacional”, como mudanças climáticas, saúde pública e imigração.

O Facebook pode ter dificuldade em manter sua posição de liderança na divulgação de publicidade política por muito tempo. A pesquisa do YouGov, realizada a pedido da agência de marketing digital Grey London, indicou que 81% dos entrevistados achavam que a propaganda política paga deveria ser regulamentada nas redes sociais durante eleições e referendos.

The Guardian-Twitter’s canny political ad ban costs it little – and piles pressure on Facebook

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