VIENA – Com o apoio do Brasil e dos Estados Unidos , o argentino Rafael Grossi , um veterano da diplomacia nuclear, foi eleito nesta terça-feira para ser o próximo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica ( AIEA ). A agência tem entre suas responsabilidades zelar pela implementação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), e lida com questões sensíveis, como a fiscalização do programa atômico do Irã.

Grossi, de 58 anos, que há anos atua na AIEA e cobiça o seu comando, prometeu agir de forma independente e neutra à frente do organismo. Ele sucederá o japonês Yukiya Amano, que morreu na função em julho último. Na disputa pela direção-geral, ele derrotou o atual diretor geral-interino, Cornel Feruta, da Romênia, e conseguiu 24 dos 35 votos do conselho de governadores da agência.

Brasil e Argentina têm uma relação próxima na questão nuclear. Os dois países criaram em 1991 a Agência Brasileiro-Argentina de de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc), que realiza fiscalizações mútuas nas instalações atômicas dos dois países. A agência bilateral foi criada para pôr fim a desconfianças que existiam entre os vizinhos acerca de uma eventual militarização de seus programas nucleares.

— Farei o meu trabalho e acho que meu objetivo é implementar o mandato de maneira independente, justa e neutra —  disse Grossi a repórteres após a votação, quando perguntado sobre o Irã.  — O que eu acho importante é dar aos países-membros e à comunidade internacional a garantia de que sou absolutamente independente e impermeável à pressão.

Diplomatas não esperam uma grande mudança sob Grossi na posição cautelosa e em geral discreta da AIEA. Atual embaixador da Argentina no organismo, ele deverá tomar posse na direção-geral em 1º de janeiro. Atualmente, também preside a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, a ser realizada em Nova York em 2020. A conferência é realizada a cada cinco anos.

Em seu discurso ao conselho de governadores da AIEA, Grossi não mencionou diretamente o Irã e chamou a troca de liderança de “oportunidade de recalibrar”, sugerindo que não planeja mudanças radicais. Ele elogiou o trabalho de salvaguardas da AIEA, que envolve a verificação de que os países estão usando a tecnologia nuclear apenas para fins pacíficos.

Apenas os países signatários do TNP, aprovado em 1968 e que entrou em vigor em 1970, se submetem às fiscalizações da AIEA. Isso significa que estão fora Estados como Israel, Índia e Paquistão, que nunca aderiram ao tratado e desenvolveram bombas atômicas, e Coreia do Norte, que abandonou o pacto em 2009. O TNP é alvo de críticas pelo fato de as potências nucleares oficialmente reconhecidas — EUA, Rússia, China, Reino Unido e França — nunca terem implementado seu compromisso com a eliminação de armas atômicas.

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