Dom Helder Câmara foi o autor da carta-aberta que consolidou a posse de JK na Presidência

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D. Helder e seus pequenos protegidos na Cruzada São Sebastião

Pedro do Coutto

Está avançando no Vaticano o processo de canonização de Dom Helder Câmara, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, que sempre esteve presente na defesa das populações carentes na busca de ajuda por parte dos governos que se sucederam no tempo. Era um reformista social em conflito com o conservadorismo eclesiástico representado pela corrente tradicional que tinha à frente, no Rio, o Cardeal Dom Jaime Câmara. Vê-se por aí que sua atuação incomodava os seguimentos conservadores.

Assinada por Edison Veiga, uma reportagem na Folha de São Paulo de segunda-feira focaliza bem o tema e apresenta em página inteira o que foi a luta de Dom Helder.

ATUAÇÃO POLÍTICA– A matéria mostra não somente o que se relaciona aos seguimentos da sociedade. Mas também a atuação política do bispo na defesa das liberdades democráticas, incluindo sua reação quanto às prisões e torturas praticadas em larga escala por setores integrantes do movimento político militar de 1964, que derrubou o governo João Goulart.

Seguiram-se 21 anos de regimes autoritários manchados pelas prisões desmotivadas e torturas praticadas contra presos políticos.

A luta de Dom Helder  alcançou repercussão internacional e sua voz de protesto repercutiu intensamente e, na minha opinião, funcionou para conter a exacerbação de seguimentos militares. Creio mesmo que muitas vidas foram salvas pela interferência direta do Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro.

SANTIFICAÇÃO – A reportagem de Edison Veiga relata diversos pontos da atuação positiva do Bispo Auxiliar do RJ. Agora, creio que o processo de canonização levará à santificação do religioso que marcou forte presença na consciência brasileira. Para a santificação são necessários dois milagres. Acredito não ser difícil alcançar essa escala.

Por falar em escala, a irmã Dulce percorreu o mesmo caminho que D. Helder. Primeiro foi canonizada e depois santificada. Sua santificação está marcada para outubro pelo Vaticano e terá lugar no Brasil.  O Papa Francisco poderá vir para participar do belo desfecho.

RARO DESTAQUE – A liturgia do Vaticano tem de ser seguida à risca, como estabelecem as leis canônicas. Hoje, vinte anos após sua morte D. Helder Câmara permanece como figura de raro destaque na visão social e política brasileira. O reconhecimento de seu trabalho, graças a Deus, coincide com a posição do Papa, no exercício da cátedra de São Pedro.

Mas no título falei na carta-aberta de D. Helder no final de 1955 que muito contribuiu para assegurar a posse de Juscelino Kubitschek e, portanto, para que o resultado das urnas não fosse rasgado. Naquele ano hoje distante, terminada a apuração de 3 de outubro, o deputado Carlos Lacerda liderava uma campanha contra a posse do eleito. Sua voz se ouvia diariamente,  transmitida pela rádio Globo.

CONFRONTO – O panorama nacional estava sendo incendiado. O confronto era enorme entre os democratas e aqueles que queriam negar a democracia.

Aí, nesse ponto entra a carta do Bispo do RJ.  “Você, Carlos”, acentuou D. Helder, “está com ódio no coração. Você sabe que fraudes eleitorais não são patrimônio deste ou daquele partido. Você também fala em tanques e canhões. Você os teme ou os deseja? Faz-me parecer que você os deseja, se estiverem a seu lado”.

O texto simples foi o desfecho de um movimento que terminou assegurando o cumprimento da Constituição brasileira. Os historiadores modernos devem ter esquecido a importância do documento. Este artigo é para que incorporem a luta pela legalidade. Assim se faz a história. Fica aí a contribuição.

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