Um amigo de Bashir, de 75 anos, disse à AFP que o ex-presidente, que havia sido detido em um lugar desconhecido, foi transferido durante a noite para uma prisão no norte da capital, Cartum.
Horas depois, o Conselho Militar de Transição, que sucedeu Bashir, anunciou a prisão de dois dos cinco irmãos do presidente deposto, Abdalá e Abas. Ambos empresários não tinham função oficial.
A detenção de Bashir não acalmou os manifestantes, que protestam desde dezembro contra o governo e que permanecem acampados diante do quartel-general das Forças Armadas em Cartum.
Os militares fizeram algumas concessões aos manifestantes, incluindo a demissão na terça-feira do procurador-geral Omer Ahmed Mohamed. Mas os manifestantes seguem determinados.
“Enfrentamos gás lacrimogêneo, muitas pessoas foram detidas. Eles atiram contra nós e muitos morreram. Tudo porque dissemos o que queríamos”, afirmou Fadia Jalaf à AFP.
As autoridades indicaram que pelo menos 65 pessoas morreram durante os protestos desde dezembro.
Os sudaneses celebraram diante do quartel-general, mas a inquietação aumenta porque muitos acreditam que os militares tentarão dispersar o protesto à força.
“Tememos que roubem nossa revolução, por isso estamos aqui, até que nossas demandas sejam atendidas”, disse Jalaf.
Testemunhas afirmaram que veículos militares cercaram a área e que as tropas removeram as barricadas criadas pelos manifestantes.
Ao tomar o poder na quinta-feira passada, os militares anunciaram que um Conselho Militar governaria o país durante dois anos, o que provocou reações negativas dos líderes dos protestos, que pediram a dissolução da junta.
Um dia depois, o ex-ministro da Defesa Awad Ibn Ouf pediu demissão como chefe da junta, o que foi celebrado pelas ruas.
Seu substituto, o general Abdel Fatah al Burhan, iniciou conversas no fim de semana com os partidos políticos, mas nada foi anunciado.
A junta militar enviou um representante à sede da União Africana (UA) em Adis Abeba, mas o bloco regional ameaçou suspender o Sudão pelo golpe de Estado.
Os 55 membros da UA deram aos militares prazo de 15 dias para entregar o poder a um governo civil, enquanto a ONU designou um novo enviado para trabalhar com o bloco regional em uma mediação.
Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos anunciaram apoio aos militares sudaneses. Cartum integra a aliança liderada por Riad que atua na guerra do Iêmen.
As potências ocidentais, que já haviam pressionado Bashir a aceitar as reivindicações das ruas, mantêm o apoio aos manifestantes.
AFP / Estado de Minas