Coaf detectou depósito de R$ 20 milhões em dinheiro para operador de Temer

O coronel João Baptista Lima Filho, tido como operador em esquemas que envolveriam o ex-presidente Michel Temer Foto: Reprodução

Coronel Lima e os outros são insaciáveis em matéria de corrupção

Juliana Castro e Juliana Dal Piva

A procuradora Fernanda Schneider, da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, informou que foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que houve uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie, em outubro do ano passado, na conta da Argeplan, do coronel Lima, amigo do ex-presidente Michel Temer também preso nesta quinta-feira.

—  Foi identificado pelo Coaf que houve uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie na conta da Argeplan. Esse fato ainda precisa ser investigado e apurado. É apenas uma comunicação do Coaf, mas esse fato, de acordo com o que foi registrado pelo Coaf, aconteceu em outubro de 2018. Ou seja, um fato extremamente recente, que aconteceu depois da prisão temporária do coronel Lima, que aconteceu em abril de 2018. É um indicativo que a organização criminosa continua atuando.  — informou a procuradora.

EM APURAÇÃO – O procurador José Augusto Vagos explicou que o banco não realizou o depósito. Por isso, ele não foi concretizado e esse fato ainda precisa ser apurado pelo MPF.

—  Esse depósito não foi feito porque o sistema de compliance do banco não aceitou e ele (o dinheiro) está circulando por aí – afirmou Vagos.

O Coronel Lima foi preso em seu apartamento na Vila Andrade , zona sul de São Paulo. Três enfermeiros foram chamados porque a mulher dele, Maria Rita Fratezi, teria passado mal. Ela também foi presa, acusada de atuar na lavagem de dinheiro por meio da reforma de um imóvel da filha de Temer, Maristela.

CHEFE DA ORCRIM – No pedido de prisão feito pelo Ministério Público Feral (MPF) no Rio, os procuradores da Lava-Jato afirmam que Temer é o chefe de uma organização criminosa que atua há 40 anos no Rio. De acordo com o MPF, a quadrilha teria recebido ou cobrado propina no valor total de R$ 1,8 bilhão.

O coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, Eduardo El-Hage, informou que o valor é o equivalente às cifras que constam nas três denúncias que já existem contra Temer. São valores somados de desvios de verba pública citados nas denúncias conhecidas como “Quadrilhão do MDB” e as dos casos da delação da J&F e ainda a dos Portos.

— Esse valor foi afirmado e colocado na peça (do MPF apresentado para pedir a prisão) para confirmar o quão perigosa é essa organização criminosa — afirmou El-Hage.

INVESTIGADORES? – A organização do ex-presidente chegou a monitorar investigadores da Polícia Federal . “Havia, inclusive, dados pessoais (desses investigadores)” — afirmou o procurador José Augusto Vagos.

O procurador contou que a organização forjava documentos e destruía as provas. A prática foi um dos fundamentos citados pelos procuradores para justificar as prisões. Segundo o MPF, a Argeplan destruía documentos diariamente justamente por ser uma empresa moldada para a organização criminosa.

Vagos afirmou ainda que Othon Silva, ex-presidente da Eletronuclear, foi colocado no cargo por Temer para ter como retorno propina: “O Othon foi ali colocado de forma já combinada com a organização criminosa para reverter proveito em forma de propina para a organização, e a escolha foi do ex-presidente Michel Temer. Essa é a tônica da organização: é a escolha de pessoas preparadas ou não para assumir postos chaves em empresas públicas para retornar em propinas para a organização”.

OUTROS PRESOS – Além do ex-presidente e João Baptista Lima, também foram presos nesta quinta-feira Carlos Alberto Costa, Carlos Alberto Costa Filho, Othon Luiz Pinheiro da Silva, Ana Cristina da Silva Toniolo, Wellington Moreira Franco, Maria Rita Fratezi, Vanderlei de Natale e Carlos Alberto Montenegro Gallo.

O diretor da Polícia Federal no Rio, Ricardo Saadi, afirmou que o ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco não vão prestar depoimentos nesta quinta-feira e que serão ouvidos em outra oportunidade.

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