A velha mídia, ou a mídia convencional, está agonizando, sem se adaptar à internet

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Sebastião Nery e Aleluia em noite de autógrafos

José Nêumanne

Hildeberto Aleluia é um jornalista baiano-carioca. Exatamente meio a meio. Começou sua vida profissional em O Jornal, na década de 1960. Passou por redações no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília. Entre elas, as de Última Hora, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, Jornal de Brasília, TV Globo, Revista IstoÉ e Jornal de Brasília. Por 12 anos foi professor de Jornalismo Político na Universidade da Cidade no Rio de Janeiro. Como empreendedor na área de comunicação, foi pioneiro na criação de várias empresas, entre elas a Video Clipping, a primeira da área de clipping eletrônico no Brasil.

Tem formação completa no setor de comunicação – rádio, jornal, televisão, revistas, publicidade, marketing e engenharia da comunicação. Em governos, tem experiências profissionais com prefeituras, governos estaduais e federal. Trabalhou com ministros de Estado em vários governos, entre os quais Mário Andreazza, Raphael de Almeida Magalhães e Abreu Sodré. É vasta sua experiência em campanhas políticas, tendo trabalhado para candidatos a prefeito, governador e presidente da República. Morou e trabalhou em Cuba.

É autor do livro  “O Futuro  da Internet – O Mundo da Dúvida” (Editora Topbooks) e do blog  http://aleluiaecia.blogspot.com . Escreve regularmente para sites e jornais sobre variados assuntos.

O senhor diz que a “velha mídia” agoniza e em alguns casos até apodrece, não é? O que o prazo curto da revolução tecnológica reserva para empresas que controlam jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão, sejam as tradicionais, sejam as por assinatura?
A velha mídia, ou a mídia convencional, está agonizando. A internet fulminou com seu modelo de negócio. Perdidos, eles não são capazes de criar um novo modelo. Estão na beira da cova. Além de custos altíssimos para a produção, muita pouca gente se mostra interessada em consumir. O que é uma pena. O jornalismo nunca foi tão necessário. Mas a velha mídia não morre somente pela concorrência da internet, ela morre também perdida em suas redações com uma produção de conteúdo dos anos de 1950. Pode pegar um jornal, uma revista ou um programa de TV do passado, antes da internet. Continuam com o mesmo modelo. Há dez anos as empresas do Murdoch, o “Cidadão Kane moderno”, valiam US$ 20 bilhões, hoje ele pede US$ 8 bilhões para a Disney. Se achar três, dê-se por contente. Esse mesmo Murdoch há 20 anos comprou a maior rede social do nascedouro da internet, a Myspace. Enfiou na rede, na época, US$ 500 milhões. Fechou em menos de cinco anos. Quis administrar com o olho em seu conglomerado, que agora está ameaçado de extinção. O gigante Facebook já percebeu que sem jornalismo de qualidade também não sobreviverá. Mas são modestos os US$ 300 milhões que ele anunciou como investimento destinado a forjar um novo jornalismo. Nenhum barão da imprensa brasileira se mostrou interessado em realizar alguma experiência nesse sentido na própria imprensa brasileira. Se você conhecer algum interessado em adquirir jornais, revistas ou redes estaduais de TV, há muitas à venda no Brasil.

O jornalismo, enfim, será morto e enterrado neste panorama em que a atividade parece envelhecida, amorfa, entorpecida e sem opção para sair da cova onde seus próprios empresários e funcionários parecem tê-la enfurnado?
Sim, não resta a menor dúvida. A partir dos anos 1960 o Brasil enveredou por uma escola de produção jornalística (copiada dos Estados Unidos) que obteve muito sucesso. Você ligava a TV, ia à banca ou comprava uma assinatura e estava adquirindo neutralidade, isenção. Esse modelo foi se modificando e a partir de um certo período passou a viver, também, das verbas dos governos. Tornou-se vulnerável e a internet chegou para apressar sua morte. Os órgãos de comunicação estão perdendo a credibilidade. De alguns já se foi. Quem tem credibilidade, hoje, no mundo da velha mídia são alguns jornalistas, No dia em que o jornalista descobrir que a ele pertence a credibilidade, estará inaugurado um novo caminho. Isso não acontece num passe de mágica, pois é necessário, junto, um modelo de negócio. E sabemos nós que os jornalistas têm horror a esse mundo.

Tal como funciona atualmente, a cibernética, com a internet e as redes sociais, pode conquistar a credibilidade que até hoje não atingiu e se aproveitar da própria crise de credibilidade dos meios da comunicação tradicional? O que o senhor espera que aconteça com o e-mail de diferente, no planeta e aqui, neste nosso quase continente?
Olha só, a internet ainda não acabou de vez com a velha mídia porque a internet não tem credibilidade. Tem seus erros também. É muita vasta e estratificada. É uma floresta imensa. O e-mail, um dos instrumentos mais úteis criados pela internet, após o advento das chamadas redes por aplicativos, ou também chamadas de sociais, foi deixado meio que de lado por seus provedores. Banalizaram de tal forma o e-mail que ele perdeu sua significância. E aí o marketing digital foi muito responsável por isso. Aqui, no Brasil, se compro uma passagem de avião, a companhia aérea me bombardeia com uma infinita quantidade de mensagens. Como não temos cobrança sobre os provedores nem uma agência que nos proteja, nossa vida por e-mail se torna um inferno. Recebo por dia uma média de 150 e-mails, que não sei de quem são, nem tenho o menor interesse. Acredito que algo vai acontecer. As restrições aos aplicativos conhecidos como rede sociais vão se alastrar. Tenho a esperança de que o velho e bom e-mail voltará a seus dias de glória. Os provedores possuem bloqueadores e os anti-spams. Mas não são suficientes.

O senhor acha que as redes sociais, tal como existem hoje em dia, são a ágora contemporânea, onde se debatem ideias e, portanto, podendo substituir instituições de representação da cidadania, como os partidos políticos? Ou não?
Não acho que se debatam ideias nas redes sociais. Nem acho que seja o lugar adequado. Lá se vendem ideias, se passam ideias e mensagens. O espaço é muito exíguo para debates. A mensagem deve ser instantânea. Elas são, sim, uma poderosa fonte de informação. Também não creio que elas, como as conhecemos, venham a substituir representações da cidadania, como partidos e outras. Poderão ser criadas redes exclusivas com esse objetivo dentro de um mesmo espectro de pensamento, mas para mensagens e informações. Ideias necessitam de espaços, tempo e longas discussões. A rede tem tudo isso, mas não conheci ainda quem se disponha a discutir, fundamentar e sustentar ideais sem longas discussões.

Por que, a seu ver, o marketing digital nunca avançou no Brasil? Há campo para progredir ou perdemos definitivamente o rumo nessa alternativa mercadológica, cada vez mais necessária, até mesmo urgente, em nossos dias?
Ainda somos analfabetos digitais. Nosso investimento pessoal, institucional e empresarial na rede, no Brasil, é pequeno. A prova é o que fizeram com o e-mail no Brasil. O comércio eletrônico fez sua aparição entre nós com entusiasmo e muitas promessas. Nas pequenas empresas até que funciona bem, mas nas grandes é um fracasso. Conheço experiências desastrosas nas grandes lojas de rede. O marketing digital regrediu no Brasil. Os problemas ainda existem. Vazamento de informações confidenciais, confusão no endereçamento, erro na leitura da compra, roubo de dados do cartão de crédito e na logística, principalmente quando as empresas dependem dos correios e telégrafos, são corriqueiros. Toda essa mecânica é gerida por robôs digitais e eles necessitam de investimentos constantes.

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