No primeiro dia de interino, Mourão ouviu críticas do embaixador alemão ao governo

Resultado de imagem para No primeiro dia de interino, Mourão ouviu críticas do embaixador alemão ao governo

Mourão ficou despachando longe da Presidência, no Anexo 2

Karla Gamba, Jussara Soares e Daniel Gullino
O Globo

Por volta de 22h do domingo, o vice-presidente Hamilton Mourão tornou-se o primeiro general do Exército a ocupar a Presidência da República desde o governo de João Figueiredo, que deixou o Planalto há 34 anos, em 1985, na ditadura militar. Eleito como civil na chapa de Jair Bolsonaro, Mourão, que é filiado ao PRTB, foi para a reserva em março do ano passado, mas mantém sólidas relações com a caserna e tem atuado para se mostrar relevante no cargo.

Como vinha afirmando nos últimos dias, Mourão preferiu continuar despachando e cumprindo as reuniões previstas em sua agenda presidencial no seu próprio gabinete de vice, que fica no Anexo 2, distante da pompa do terceiro andar do Palácio do Planalto.

AGENDA – O primeiro compromisso do dia foi uma entrevista ao vivo para uma rádio. Já a primeira reunião foi com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que, segundo Mourão, foi um “encontro entre amigos”, no qual ele aproveitou para fazer piadas com o ministro pela derrota do Botafogo, time de Azevedo, e vitória do Flamengo, seu time do coração.

Durante o dia Mourão recebeu o porta-voz da Presidência, o também general Rêgo Barros e embaixadores. No principal desses encontros, com o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, Mourão teria ouvido críticas sobre o governo.

Na saída de reunião, o embaixador afirmou que a administração Bolsonaro precisava “explicar suas intenções”, por exemplo, nas áreas de direitos humanos e mudanças climáticas, para melhorar a reputação. Witschel relatou preocupação de parte da imprensa e sociedade alemã em relação ao governo mas disse que os alemães queriam medir a nova gestão pelos atos e não pelos tuítes e palavras proferidas durante a campanha.

ZAP DE BOLSONARO – Ao final do dia, quando deixava o Planalto para casa, Mourão afirmou a jornalistas que Bolsonaro tinha “mandado um zap” da Suíça dizendo que estava tudo bem.

— Mandou um zap aí, falando que chegou bem, que estava bem, que chegou bem, que está tudo tranquilo, tudo certo lá — afirmou o presidente em exercício.

Às vésperas de ser eleito vice-presidente, Hamilton Mourão tinha outros planos. Descartava a ideia de despachar no Anexo 2, o gabinete de todos os vices anteriores, ou ser um “vice-decorativo”, e dizia que estaria dentro do Palácio do Planalto, em sala ao lado do presidente da República, com participação efetiva no governo de Jair Bolsonaro. A realidade, contudo, foi diferente: Mourão ficou, no fim das contas, no Anexo 2, edifício ao lado do Planalto.

HOMEM PRÓXIMO — Eu me vejo como um assessor qualificado do presidente, um homem próximo ali, junto dele, dentro do Planalto, ali ao lado dele. Nossas salas serão juntas. Não seremos duas figuras distantes, como já aconteceu, um para o lado e o outro para o outro lado. Aquelas reuniões que ocorrem ali, eu estarei presente — disse Mourão ao Globo no dia 25 de outubro, três dias antes do segundo turno.

A sala que o vice almejava permite um acesso direto ao presidente e geralmente é ocupada pelos chefes de gabinete, como Gilberto de Carvalho (no governo do ex-presidente Lula), Giles de Azevedo (Dilma Rousseff) e Nara de Deus (Michel Temer). Também ficam no Planalto, mas no andar de cima, Casa Civil, Secretaria de Governo, Secretaria-Geral e Gabinete de Segurança Institucional (GSI). No organograma de poder palaciano, não escrito, mas sempre lembrado por velhos servidores, ter gabinete dentro do palácio é algo bem diferente de ter sala nos anexos. É uma questão de status.

NO ANEXO 2 – O anexo em que fica a “VPR” abriga assessorias técnicas, além de terminais bancários e um restaurante estilo bandejão. Além disso, o local era constantemente criticado pelos assessores de Temer por problemas de segurança.

Em 2013, por exemplo, no estacionamento da vice, ladrões furtaram duas rodas de um carro que estava a metros da sala de Temer. O carro era justamente de um auxiliar do então vice.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *