Por que o mundo está cheio de ‘botões placebo’?

Entenda por que botões, como aqueles existentes em sinais de trânsito, são feitos para não funcionar

Esses botões são chamados de ‘botões placebo’ e têm uma finalidade (Foto: Karla Vieira/Semcom)
Alguma vez você já se pegou apertando um desses botões para pedestres, acoplados em postes de sinais de trânsito, e suspeitou que ele não funcionava? Ou apertou o botão para fechar a porta de um elevador, e desconfiou que ele não surtiu nenhum efeito?

Com certeza, você não foi o único. E a explicação é simples e vai além de sua cidade: o mundo está cheio de botões que não têm nenhuma real utilidade.

Esses botões, chamados de “botões placebo”, podem ser apertados, mas não oferecem resultado. Como pílulas de placebo, eles servem a outro propósito, de acordo com Ellen Langer, uma psicóloga de Harvard que foi pioneira em um conceito conhecido como “ilusão de controle”.

“Eles têm um efeito psicológico. Ter uma ação leva as pessoas a sentirem uma sensação de controle sobre uma situação, e isso é bom, em vez de ser apenas um espectador passivo. Fazer algo normalmente é melhor do que não fazer nada”, disse Langer, em entrevista à rede CNN.

Na cidade de Nova York, apenas cerca de 100 dos 1.000 botões de faixa de pedestres funcionam, segundo um porta-voz do Departamento de Transportes da cidade. Esse número tem diminuído constantemente nos últimos anos. Outras cidades, como Boston, Dallas e Seattle também têm botões placebo.

Os sinais de pedestres foram instalados antes que o congestionamento atingisse os níveis de hoje e, com o tempo, eles começaram a interferir na complexa coordenação dos semáforos. Enquanto sua função era assumida por sistemas mais avançados, como luzes automáticas ou sensores de tráfego, os botões físicos geralmente eram mantidos, em vez de serem substituídos a custos adicionais.

Em Londres, que tem 6.000 sinais de trânsito, pressionar o botão de pedestre acende uma luz com a palavra “Espere”. Mas isso não significa que o “bonequinho verde”, indicando que o pedestre pode atravessar a rua vai aparecer logo.

Nos EUA, o botão mais criticado é o “fechar portas” existente em elevadores. Se você mora nos EUA, certamente ele, de fato, não funciona. “Para simplificar, o público não conseguirá fechar as portas com mais rapidez usando esse botão”, explica Kevin Brinkman, da National Elevator Industry.

“A legislação exigia que as portas de um elevador permanecessem abertas por tempo suficiente para que qualquer pessoa com deficiência ou problemas de mobilidade, como usar muletas ou uma cadeira de rodas, entrassem com segurança”, disse Brinkman.

Assim, a menos que o tempo estipulado para o embarque tenha sido alcançado, pressionar o botão não fará nada. Está lá apenas para bombeiros, pessoal de emergência e trabalhadores de manutenção, que podem anular o atraso com uma chave ou inserção de um código.

Fora dos EUA, há uma chance maior – embora não com certeza – de que o botão realmente funcione. “A funcionalidade do botão – se fecha a porta mais rápido ou não – é determinada pelo código de construção ou pelo cliente”, disse Robin Fiala, da Otis, maior fabricante mundial de elevadores.

Quente demais para manusear

Termostatos em quartos de hotel são conhecidos por limitar a faixa de temperatura disponível para os usuários, reduzindo assim os custos de energia pra o estabelecimento. A prática não se limita aos hotéis, de acordo com Robert Bean, da Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento e Ar Condicionado. Isso não é estritamente uma coisa ruim, porque a temperatura do ar, que é o que a maioria dos termostatos controla, é apenas uma peça do quebra-cabeça térmico.

Às vezes, no entanto, termostatos podem ser enganosos pelo seu design. Alguns modelos incluem até uma opção “função placebo”. “A pesquisa de conforto térmico demonstra que, quando as pessoas percebem o controle de temperatura sobre seus espaços, algumas podem tolerar níveis mais altos de desconforto”, disse Bean.

Segundo Bean “se um termostato não funcional (placebo) ou termostato de função limitada estiver instalado, apenas ter a opção de manipulá-lo pode afetar a percepção da pessoa”.

Termostatos fictícios – aqueles que não estão conectados ao sistema – também podem ser encontrados em escritórios, segundo Donald Prather, da Air Conditioning Contractors of America.

“[Eles] foram colocados lá para acalmar um reclamante constante, dando-lhes controle. Quando eu era estagiário de engenharia, fui enviado para calibrar um. Quando perguntei por que eles me fizeram calibrar um termostato que não estava ligado, eles entraram em pânico e perguntaram se eu disse para outras pessoas que o aparelho não estava ligado”, conta Prather.

Bons botões

De acordo com Langer, os botões placebo têm um efeito positivo em nossas vidas, porque nos dão a ilusão de controle – e algo para fazer em situações onde a alternativa seria não fazer nada (o que explica por que as pessoas pressionam o botão quando já está aceso).

No caso de travessias de pedestres, eles podem até nos tornar mais seguros, forçando-nos a prestar atenção ao nosso entorno. E afinal pressionar um botão não requer muito esforço. “Quando você pensa sobre isso, é uma resposta tão pequena que, mesmo que não tenha qualquer efeito, dificilmente terá um custo”, diz Langer.

Fonte:
CNN-Illusion of control: Why the world is full of buttons that don’t work

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