O ponto alto da Literatura Hebraica, na grandiosidade do Antigo Testamento

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Antigo Testamento,  um monumento da cultura hebraica

Por Antonio Rocha

No sábado passado, em nosso artigo semanal, abordamos a histórica e polêmica carta do senador Públio Lentulus ao imperador Tibério César, em Roma, a respeito da imagem pessoal de Jesus e suas características éticas e morais. O tema rendeu audiência e ânimo exaltado. Sempre assinalo que sou um estudioso ecumênico e vejo os textos religiosos como obras de arte literária e filosóficas. Esclareço que assim o faço, respeitando os demais que discordem de minhas pesquisas na área.

Quando escrevi que lia a Bíblia como um romance, uma telenovela, devo ter magoado quem não entendeu minhas palavras. Tenho a mania Zen de escrever resumidamente e nem sempre sou aceito. Foi o que aconteceu.

DO TIPO HAIKAY – Como um poema japonês chamado haikay que tem apenas três versos e 17 sílabas, escrevo resumindo. Mas ler a Bíblia como um livro de contos ou crônicas, ou antologia poética, não é desdouro nenhum aos que a consideram Palavra de Deus.

Interreligiosamente, sempre falo que os muçulmanos também dizem que o Corão é a Palavra de Deus e os hindus afirmam que a Baghavad Gita (A Canção do Senhor), em sânscrito, também é a Palavra de Deus. Neste caso, com quem ficar? Prefiro a imparcialidade acadêmica e científica.

LITERATURAS – Leio os textos sagrados, respeitosamente, mas como ficção ou mitologias. Antes que alguém estranhe o termo ciência, esclareço que no âmbito de tais investigação temos as Ciências da Literatura ou Ciências das Literaturas.

No domingo, refletindo sobre o ocorrido, lembrei que na Faculdade de Letras da UFRJ estudei Literatura Hebraica. Então fui à fonte, a monumental obra em seis volumes “História das Literaturas Universais”, editorial Estampa, publicada em Lisboa, em 1973. O autor e organizador é o professor alemão Wolfgang Einsiedel. Compartilho com vocês uma parte deste longo capítulo e em outra oportunidade voltaremos ao assunto:

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O ANTIGO TESTAMENTO   /   Wolfgang Einsiedel

“O centro e monumento da literatura hebraica é um único livro: o Antigo Testamento, isto é a Bíblia hebraica. Para o leitor crente ele é um testemunho, ou melhor, o testemunho da revelação divina; para o leitor culturalmente sensível, a mais perfeita expressão literária do povo hebraico que o criou.

Embora seja constituído por uma série de escritos de várias épocas e de diversos estilos, este livro é um todo orgânico, que não permite distinções radicais entre os vários estados literários que caracterizam as diferentes partes de que se compõe. A Bíblia é o resultado de uma seleção secular, o precipitado espiritual de toda uma civilização e da sua tradição oral e escrita.

No seu conjunto, a literatura hebraica bíblica é o fruto cultural perfeito das grandes civilizações médio-orientais que a precederam. Nos livros do Antigo Testamento deixaram a sua marca a sabedoria dos antigos egípcios, as lendas religiosas e os épicos sumério-babilônicos, a legislação de Hamurabi e, principalmente, a literatura cananéia. Mas todos estes influxos estrangeiros foram fundidos e transformados numa obra de arte dotada de um cunho absolutamente original.

Os vinte e quatro livros do Antigo Testamento, escritos na maior parte em língua hebraica, refletem o desenvolvimento espiritual e social dos hebreus desde 1000 até cerca de 100 anos aC.; mas já os mais antigos dos seus documentos são inspirados na religião monoteísta e na ética sócio-religiosa dos profetas (que caracterizam a maturidade do povo hebraico), enquanto reciprocamente, nos documentos mais recentes sobrevive a recordação das origens.

A graça fatal que toca o eleito de Deus, os desígnios da Providência, a vontade divina: eis os grandes temas sobre os quais se fundam diversos livros históricos (que constituíram a primeira tentativa de interpretação da história humana) quer os proféticos e eruditos. Mas estes escritos são também uma antecipação do futuro mais ou menos longínquo. Sobretudo as visões apocalípticas do Livro de Daniel podem ser consideradas se não propriamente como uma ponte para a literatura pós-bíblica, pelo menos a sua antecipação.

Inúmeros outros testemunhos dessa fase de transição existem nos fragmentos encontrados no deserto da Judéia, os chamados “manuscritos do Mar Morto”, que representam a mais antiga forma de literatura midrásica e da lírica religiosa subjetiva. Estes manuscritos deixam também transparecer a inquietude que reinava na Palestina na época da ocupação romana, que devia concluir-se com a destruição de Jerusalém e do segundo tempo, e que representou a primeira grande mudança da história dos hebreus e da sua literatura”. (páginas 109 e 110), volume 1.

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