Movimento, a princípio contra a alta do preço dos combustíveis, se transformou em um protesto geral contra a perda do poder aquisitivo
A manifestação teve momentos de conflito, como um trailer incendiado, balas de borracha contra manifestantes e depredações. Ao todo, a polícia deteve 35 pessoas e oito ficaram feridas. De acordo com o Ministério do Interior da França, cerca de 80 mil pessoas participaram das marchas em todo o país, com 5 mil deles apenas na Champs-Elysées, avenida mais famosa do país.
— É algo que vai além da gasolina — afirmou um aposentado de cerca de 50 anos de idade que participava de um piquete em uma estrada de Martigues, no sul da França.
Na manhã deste sábado, milhares de manifestantes se dirigiram à Champs-Elysées gritando palavras de ordem contra Macron, tais como “Macron, démission!” (que pede a renúncia do presidente). No local, forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e um caminhão equipado com um canhão de água para dispersar os manifestantes que tentavam romper um cordão policial, de acordo com os relatos de um jornalista da agência de notícias AFP. Manifestantes e agentes da polícia entraram em confronto.
A convocação para este “segundo ato’’ do movimento, na capital francesa, foi feita principalmente pelas redes sociais, principal canal de comunicação do grupo dos coletes amerelos. Devido ao perfil ambíguo do movimento, as autoridades querem evitar os problemas já produzidos na primeira semana de mobilizações — dois mortos, além de 620 civis e 136 membros das forças de segurança feridos —, com um destacamento policial “em um nível excepcional”. As autoridades temem, especialmente, a infiltração entre os manifestantes de “violentas redes de direita e ultra-esquerda”. Em Paris, 3 mil agentes foram mobilizados, segundo a prefeitura.
Mais de 35 mil pessoas se declararam no Facebook dispostas a participar de uma mobilização na Praça da Concórdia, na capital, mas esta manifestação foi proibida devido à sua proximidade com o palácio presidencial e a embaixada dos Estados Unidos.
Na manhã deste sábado, um amplo perímetro foi fechado em torno do Palácio do Eliseu, da Praça da Concórdia, da Assembleia Nacional e do Hotel de Matignon, onde ficam os escritórios do primeiro-ministro.
— Nesta área, nenhuma manifestação ou reunião ligada aos ‘coletes amarelos’ pode ser realizada — alertou o chefe de polícia, Michel Delpuech.
As autoridades deram permissão para que os manifestantes se reunissem no Campo de Marte, ao pé da Torre Eiffel. O local é amplo, sem comércio ao redor e as forças de segurança estão acostumadas a fazer a vigilância na área em grandes eventos. No entanto, os coletes amaremos rejeitaram a oferta, que, segundo eles, significava “ficar preso em um parque”. O movimento prometeu, pelas redes sociais, chegar a outros pontos estratégicos da capital, incluindo a Champs-Elysées, Praça da Concórdia e o Palácio do Eliseu.
Como nos últimos dias, também foram registradas manifestações no resto do país, no entroncamento de vias em várias cidades ou nas rodovias.
O movimento, que não tem ligações com sindicatos ou partidos políticos, organizou no dia 17 deste mês seu ‘’primeiro ato’’, conseguindo levar às ruas cerca de 280 mil manifestantes em toda a França e prometeu “tomar Paris’’ neste sábado. O movimento se insere na longa história francesa de contestação social e vocação para manifestações de protesto de rua. De acordo com uma pesquisa da BVA, 72% dos franceses se identificam com as demandas dos “coletes amarelos”, especialmente trabalhadores e operários(78%), pessoas que moram fora da capital (74%) ou em áreas rurais ( 77%).
Poder aquisitivo
Gasolina muito cara, impostos excessivos, pensões e aposentadorias. As demandas dos coletes amarelos convergem na mesma afirmação: a perda do poder aquisitivo.O movimento representa um desafio real para Macron, que, por enquanto, não parece disposto a modificar o ritmo de suas reformas para “transformar” a França, ou renunciar ao aumento do preço do combustível, tudo para “manter o rumo a favor da transição ecológica “.
Segundo a imprensa francesa, no entanto, Macron poderia anunciar na próxima terça-feira novas medidas destinadas às famílias de mais baixa renda para evitar o risco de uma fratura social.