Aliados tentam mudar estratégia de comunicação, mas filhos de Bolsonaro resistem

Lives nas redes foram marcas da campanha de Bolsonaro

Talita Fernandes
Folha

Eleito com forte ação pelas redes sociais e sem uma estrutura de assessoria de imprensa, Jair Bolsonaro agora estuda profissionalizar a comunicação de seu governo, mas enfrenta resistência dos filhos que atuam na política. Passadas três semanas desde a vitória nas urnas, Bolsonaro ainda não tem um responsável por divulgar sua agenda e fazer esclarecimentos sobre suas ações, por exemplo.

De um lado, os filhos do presidente eleito resistem à profissionalização desse trabalho, hoje feito de maneira informal por assessores. De outro, políticos e militares avaliam que a ausência de um assessor de imprensa e de uma estratégia clara de comunicação traz prejuízos. Durante a campanha, Bolsonaro não teve assessoria profissionalizada.

CRÍTICA – Na primeira entrevista coletiva que concedeu como presidente eleito, na qual alguns veículos de comunicação foram barrados, ele disse não saber quem decidiu selecionar os jornalistas. O episódio é mencionado por alguns aliados como exemplo de crítica que poderia ter sido evitada se houvesse um profissional responsável pela organização. Ao longo da corrida presidencial, o argumento usado pela equipe de Bolsonaro era a ausência de recursos para contratação de um assessor. Com o governo de transição em funcionamento, esse não é mais um problema, já que o presidente eleito dispõe de ao menos 50 cargos.

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) é o que mais resiste à contratação de uma assessoria. Ele é quem alimenta os perfis do pai nas redes e foi o responsável por idealizar a estratégia adotada nos últimos anos pelo presidente eleito; de intensificar a comunicação com apoiadores via internet. “Essa proximidade com o público na internet foi o que ajudou meu pai a brigar contra as mentiras espalhadas contra ele e todos que nele acreditam. Faremos o máximo para manter tudo isso”, escreveu o vereador no Twitter no mês passado.

PRESSÃO FAMILIAR – Carlos é o filho mais próximo a Jair Bolsonaro. Nesta semana, ele deverá formalizar na Câmara de Vereadores do Rio o quarto pedido de licença de seu mandato. Com isso, totalizará 120 dias afastado do cargo. Durante a campanha, o tom de Carlos nas redes do pai incomodou aliados. Enquanto Bolsonaro tentava adotar discurso mais conciliador, o vereador continuava a fazer postagens contra a imprensa. Além do vereador, outros dois filhos políticos do presidente eleito — o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ)— se opõem a nomes já sondados para comandar uma estrutura de comunicação.

Pessoas próximas a Bolsonaro relataram que sugestões de nomes de jornalistas para assumir a comunicação foram desaprovadas pelos filhos sob a justificativa de os profissionais serem petistas ou comunistas. Parte dos aliados sugere nomes com experiência para assumir a Secretaria de Comunicação. Entre os defensores de uma comunicação profissional está o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão. Outras pessoas tentam vencer a resistência de Bolsonaro apresentando nomes do mercado. Entre eles, foi sugerido Alexandre Garcia, da TV Globo. A equipe do presidente eleito nega que tenha havido convite formal ao jornalista.

ALINHAMENTO IDEOLÓGICO – Os filhos defendem nomes com alinhamento ideológico ao pai. São poucos os jornalistas elogiados por eles. São exemplo nomes do site O Antagonista, como Felipe Moura Brasil, ou do colunista da revista Veja Augusto Nunes. Durante a campanha, Eduardo Bolsonaro destacou em sua conta do Twitter uma entrevista que o pai concedeu a Nunes. No post, ele dizia que aquela era a melhor entrevista do então candidato.

O principal canal de comunicação oficial do futuro governo tem sido a conta de Bolsonaro no Twitter. Foi criado ainda um perfil oficial na rede social chamado Muda de Verdade, cuja descrição é “perfil oficial do Portal de Transição”. Assessores do gabinete de transição não sabem informar quem é o responsável pelas postagens. Até que se defina se haverá um profissional a cargo da comunicação, o trabalho vem sendo feito de forma improvisada. Há um assessor informal, Tercio Arnaud Tomaz, que trabalha no gabinete de Carlos Bolsonaro e confirma agendas do presidente eleito e divulga fotos e vídeos das ações do político. Além disso, há na coordenação da equipe de transição uma assessoria de imprensa.

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