Por Helena Chagas
O retorno vigoroso das operações da Polícia Federal e do Ministério Público após a trégua eleitoral não deixa margem a dúvidas: com o juiz Sérgio Moro na Justiça, viveremos em estado permanente de Lava Jato. Tome-se aqui por Lava Jato todas as ramificações, filhotes e assemelhadas da operação-mãe que voltaram a pipocar nos últimos dias, como a Capitu, desta manhã, que prendeu o vice-governador de Minas, Toninho Andrade, e, mais uma vez, o empresário Joesley Batista, por suspeita de pagamento de propinas no Ministério da Agricultura e de mensalinhos a deputados do PMDB.
Não é exatamente o que se esperava. Em Curitiba, por exemplo, a Lava Jato original caminhava para o fim, com o esgotamento das investigações, o julgamento dos acusados e o esvaziamento do grupo original da força tarefa – o que, para o torcida de Moro, justificaria até sua decisão de aceitar o convite para o Ministério da Justiça e se mudar de lá.
É justamente esse movimento, porém, que agora leva muita gente dos meios jurídicos a acreditar que a Lava Jato acabou… só que não. Moro sai da 13ª Vara de Curitiba, mas sua ascensão profissional e política alimenta uma espécie de “morismo” nos meios policiais e judiciais.
No comando do órgão ao qual a PF é funcionalmente subordinada, e profundo conhecedor dos meandros das investigações e delações, Moro é um estímulo ao nascimento de filhotes e mais filhotes da Lava Jato a partir de centenas de delações que se desdobram cada vez mais. Ainda há muito material guardado, e a nomeação do juiz para a Justiça dá ânimo a procuradores e delegados para tirar esse material da gaveta. A operação desta manhã, por exemplo, teve base na delação do doleiro Lúcio Funaro, que já virou arroz de festa na Lava Jato.
Até porque, além do combate à corrupção, a outra missão de Moro no governo é extremamente complicada: enfrentar o crime organizado e reduzir os níveis da violência que produziu 65 mil homicídios num ano. Essa, sim, é a tarefa primordial e mais difícil do responsável pela segurança no governo Bolsonaro. Obviamente, quase impossível, e de execução lenta e pouco perceptível ao público nos primeiros tempos. Por isso, é importante para Moro e os seus manter a platéia entretida com a Lava Jato em bases permanentes.