Se confirmados os prognósticos sinalizados pelas pesquisas eleitorais, a partir de 1º de janeiro Jair Bolsonaro (PSL) assumirá o Planalto, e, na agenda de debates que se travam no país, o meio ambiente estará entre os temas mais controvertidos.
O assunto há anos ganha relevância, devido aos efeitos climáticos causados pelo aquecimento global, com grande impacto na produção de alimentos, atividade em que o Brasil se destaca no mundo. Aufere grande receita cambial com as exportações agropecuárias e, até por isso mesmo, precisa acompanhar de perto a questão da preservação do meio ambiente.
Já se discute o assunto, porque, ao contrário da escassez de informações sobre o que um governo Bolsonaro planejar fazer na economia, por exemplo, sobre a necessária administração responsável da convivência equilibrada entre produção agropecuária e os biomas há medidas concretas que poderão ser tomadas pelo novo Planalto. E preocupam.
Uma delas é o rebaixamento do Ministério do Meio Ambiente para ser uma autarquia do Ministério da Agricultura. Será um retrocesso inaceitável a próxima alta burocracia pública ser estruturada a partir do entendimento equivocado de que a preservação ambiental prejudica a produção agropecuária. Bolsonaro disse ontem que poderia voltar atrás. Acertará.
Não bastassem provas científicas de que o manejo sem critérios de florestas, campos, etc. reduz a disponibilidade de água, algo fatal para a produção de alimentos, a crescente consciência mundial sobre a questão cria mecanismos para punir o desleixo com o meio ambiente.
Bolsonaro, seguindo a trilha do presidente Trump, retiraria o Brasil do Acordo de Paris. Nos EUA, onde setores industriais de peso já assumiram compromissos com o corte de emissões, a atitude de Trump tem pouco efeito concreto. No caso do Brasil, um grupo de 180 entidades se pronunciou contra a denúncia do Acordo.
Ao contrário do que possam pensar bolsonaristas e aliados, há segmentos esclarecidos importantes no complexo agropecuário, incluindo o comércio, preocupados com a preservação do meio ambiente. Esta é uma bem-vinda cultura que se alastra no mundo.
Em entrevista ao GLOBO, o cientista brasileiro Carlos Afonso Nobre, climatologista de projeção internacional, alertou que a economia globalizada se move no apoio à produção responsável de alimentos. Grandes fundos de investimento que atuam no setor de matérias-primas, por exemplo, se afastam do carvão. E tende a sofrer cada vez mais restrições a produção de alimentos em áreas desmatadas.
Mais redes de varejo, por exemplo, deixarão de adquirir produtos não certificados. Assim, a carne e a soja brasileiras tendem a enfrentar barreiras elevadas, devido ao descaso ambiental. Neste sentido, gerenciar com sensatez florestas, cursos de água etc. já está sendo uma questão crucial para preservar negócios bilionários. Em contrapartida, garantem-se alimentos para as próximas gerações. A lógica é irrefutável.
O Globo