O velho e bom jornalismo tem no contraditório sua principal virtude

Por Acílio Lara Resende (foto)

Estas linhas poderiam morrer aqui, nesta primeira. Poderia preenchê-las com a transcrição do que disse Merval Pereira em sua coluna em “O Globo” de anteontem, 23.10 (“Retórica de guerra”). Merval disse tudo. Fez homenagem ao velho e bom jornalismo, que tem no contraditório sua maior virtude. Mas quero deixar aqui algumas palavras.

O deputado mais votado da história do país, Eduardo Bolsonaro, filho do candidato a presidente pelo PSL, sobre o fechamento do STF disse algo que jamais poderia dizer, mas o tratamento recebido da mídia não foi o que ela deu a vários petistas (a começar por Lula), que têm feito afirmações gravíssimas contra o Supremo Tribunal Federal.

Os “tempos sombrios” que já estamos vivendo se devem, principalmente, ao antipetismo e à decepção com o PSDB, nossa social-democracia tupiniquim. Dói-me dizer isso, pois fui dos que mais se entusiasmaram quando de sua criação. Os dois são os maiores responsáveis pelo surgimento e pela provável eleição do ex-capitão, que, de fato, não está preparado para governar o país. Poderá aprender governando. PT e PSDB (com ênfase sobre o primeiro) se restringiram a pensar em seu projeto de permanência no poder, e não no bem do país.

Agora, com a vitória previsível de Jair Bolsonaro, a pergunta que nos resta é uma só: como ficaremos todos a partir de 2019? Pergunta igual fez o jornalista Fernando Gabeira em seu artigo em “O Estado de S. Paulo” de 19.10.2018. Não tenho resposta a minha pergunta. Fico com a do Gabeira: não temo (amém!) pela democracia brasileira, mas é bom que permaneçamos em alerta, como o escoteiro.

Espero que, a partir do próximo domingo, à noite, Bolsonaro, se for eleito, chegue à conclusão de que, até aqui, a tarefa que lhe pareceu difícil foi a mais simples. A mais espinhosa, sem dúvida, será presidir um país de 206 milhões de habitantes que, por livre escolha, elegeu, em 1988, a democracia como seu encantado sonho. Sua missão: uni-lo e pacificá-lo na liberdade. Esta deve ser a mais importante de todas as tarefas. Os radicais de direita que o escolherem pensando noutra coisa, vale dizer nas bravatas que deixou escapar (não só durante a campanha), poderão se frustrar. Muitos o deixarão. Outros poderão juntar-se aos radicais da esquerda… Suas ideias suicidas não terão vez. Na cata de votos, que o ex-capitão tenha sido só esperto.

Só depois da posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República (se ele chegar lá…), quem sabe na divulgação dos nomes que o ajudarão a governar, ficaremos sabendo o que realmente pretende o ex-capitão, que, ao longo de três décadas como parlamentar, soube bravatear. Espera-se que tenha aprendido como funciona nossa democracia, que tem defeitos, mas tem qualidades, e que respeite nossa Constituição. Não me atrevo a apostar, desde já, em seu retumbante fracasso. É coisa de quem gosta de sofrer por antecipação. Aos mais céticos, que nunca enxergam a esperança, sugiro uma revoada sobre os 13 anos e pico de governos do PT. Ou sobre o desabafo de Cid Gomes.

Discordo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite. A opção por Bolsonaro não significa escolher a barbárie; a opção por Haddad não significa escolher a civilização. Bolsonaro é um risco, mas a permanência do PT no poder também representaria risco para o país. A maioria dos eleitores quer seu distanciamento para que reflita bastante sobre a derrota que deverá sofrer e sobre os graves erros que cometeu.

A alternância no poder poderá cuidar do país.

O Tempo

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