Entenda as pesquisas: Bolsonaro acelera no fim

O Terra compilou os resultados obtidos pelos principais institutos do Brasil, e os colocou ao lado dos fatos políticos mais importantes

Mesmo após declarações desastradas de seu vice, Jair Bolsonaro (PSL) conseguiu aumentar suas intenções de voto acima da margem de erro na pesquisa Ibope, chegando a 31%. É o maior patamar registrado nessa campanha. Fernando Haddad (PT), segundo colocado, estacinou nos 21%. Faltam poucos dias para a eleição, e os candidatos olham seus resultados nos levantamento com interesse e preocupação crescente.

Os principais levantamentos desse tipo são feitos por Ibope e Datafolha, divulgados mais ou menos duas vezes por semana e dominam o noticiário em período eleitoral.

Os resultados dos candidatos reagem à campanha e a outros fatos sobre os quais ninguém envolvido no processo eleitoral tem controle – como o atentado ao presidenciável Jair Bolsonaro. O Terra compilou os resultados das pesquisas feitas pelos dois principais institutos do Brasil (Ibope e Datafolha) desde o começo oficial da campanha eleitoral. Também incluiu em ordem cronológica os principais fatos políticos das últimas semanas.

Para ler pesquisas, é importante saber que elas não são 100% certeiras. Entre a coleta de dados e a divulgação dos resultados, por exemplo, algo significativo pode acontecer e mudar a intenção de votos de várias pessoas. Alguns políticos jogam suspeição sobre os levantamentos comparando dados antigos com o resultado das eleições. Trata-se de um erro. Pesquisas são um retrato de um momento específico, não permanente.

Candidatos participam do debate da Rede TV!
Candidatos participam do debate da Rede TV!

Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Os institutos calculam a possibilidade de os resultados estarem de acordo com a realidade – em geral, trabalham com um nível de confiança de 95%. Também divulgam uma margem de erro. Se ela for de dois pontos, significa que um candidato com 10% das intenções de voto pode ter de 8% a 12%.

Apesar de imperfeitas, são a fonte de dados mais confiável existente sobre o processo eleitoral. Tanto que candidatos com campanhas ricas o suficiente para encomendar levantamentos encomendam e modulam o discurso de acordo com os resultados.

Também é importante ter em mente que não se deve comparar números de pesquisas feitas por institutos diferentes. Como eles usam métodos distintos uns dos outros, o certo é olhar Ibope com Ibope e Datafolha com Datafolha.

Números e fatos

A campanha começou oficialmente em 16 de agosto. Ou seja, a partir dessa data os candidatos poderiam fazer comícios, distribuir santinhos e pedir votos. Na prática, políticos já faziam campanha antes. Tomavam cuidado, porém, para não incorrer em algo que pudesse ser contestado na Justiça.

O registro das candidaturas havia tido seu último dia na véspera, 15 de agosto. Entre os candidatos cadastrados, estava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então líder nas pesquisas. Haddad, atual representante do PT, tinha intenção de voto discreta.

Ibope – divulgada em 20 de agosto

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 20%
  • Marina Silva (Rede) – 12%
  • Ciro Gomes (PDT) – 9%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 7%
  • Fernando Haddad (PT) – 4%

Terra preferiu destacar o cenário com Fernando Haddad testado na época, porque ele é quem efetivamente vai disputar a eleição – mesmo naquela altura isso já era esperado por quem acompanha o processo mais de perto. O PT, porém, preferiu manter o discurso de que o ex-presidente era candidato. Como estava registrado, foi incluído em um cenário do levantamento:

  • Lula (PT) – 37%
  • Jair Bolsonaro (PSL) – 18%
  • Marina Silva (Rede) – 6%
  • Ciro Gomes (PDT) – 5%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 5%

Informações colhidas de 17 a 19 de agosto, margem de erro de dois pontos percentuais

Datafolha – divulgada em 21 de agosto

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 22%
  • Marina Silva (Rede) – 16%
  • Ciro Gomes (PDT) – 10%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 9%
  • Fernando Haddad (PT) – 4% (Alvaro Dias, do Podemos, também tinha 4%)

Assim como na pesquisa Ibope divulgada dias antes, o Datafolha testou cenários com o ex-presidente Lula:

  • Lula (PT) – 39%
  • Jair Bolsonaro (PSL) – 19%
  • Marina Silva (Rede) – 8%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 6%
  • Ciro Gomes (PDT) – 5%

Informações colhidas em 20 e 21 de agosto, margem de erro de dois pontos percentuais

O ex-presidente Lula está preso em Curitiba, condenado em segunda instância no processo do tríplex no Guarujá. Para manter a candidatura, o PT enfrentava uma batalha judicial. Essa disputa teve fim na madrugada de 1º de setembro, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu que o ex-presidente não poderia ser candidato por causa da lei da ficha limpa.

O julgamento teve um impacto bem pragmático nas pesquisas, que são fortemente reguladas pelo TSE. Sem saber se poderia divulgar os resultados do seu levantamento feito de 1 a 3 de setembro, já sem Lula, o Ibope atrasou a publicação dos dados em um dia.

O Datafolha cancelou a pesquisa que faria de 4 a 6 de setembro, pois havia registrado para o levantamento um questionário com Lula. Acabou realizando nova pesquisa em 10 de setembro, e a divulgou no mesmo dia.

Em 31 de agosto, também começou o horário eleitoral no rádio e na televisão, historicamente determinante nas eleições. Os desempenhos de Alckmin e de Bolsonaro sugerem que a influência desse recurso de campanha já não é mais a mesma.

Com quase metade do tempo de TV, Alckmin não só não decolou nas intenções de voto como, mostrariam as pesquisas posteriores, oscilou para baixo. Por outro lado, Bolsonaro mostrou um crescimento lento e constante com seus poucos segundos de TV.

Antes de tudo isso, em 10 de agosto, os candidatos tiveram sua primeira aparição conjunta na televisão, no debate da Band. O grande personagem da ocasião, porém, foi Cabo Daciolo (Patriota). Após trazer uma teoria da conspiração contra Ciro Gomes (PDT), Daciolo foi motivo de chacota nas redes sociais.

Ibope – divulgada em 5 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 22%
  • Marina Silva (Rede) – 12%
  • Ciro Gomes (PDT) – 12%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 9%
  • Fernando Haddad (PT) – 6%

Informações colhidas de 1 a 3 de setembro, margem de erro de dois pontos percentuais

A pesquisa Datafolha feita e divulgada em 10 de setembro, além de ser a primeira após o TSE barrar Lula, também pegou os primeiros efeitos do atentado a Jair Bolsonaro. Ele oscilou para cima 2 pontos percentuais após ser esfaqueado em ato de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora.

Quando a intenção de voto de um político cresce dentro da margem de erro, não é possível dizer que ele progrediu nas pesquisas. Os levantamentos posteriores, porém, mostraram que a tendência para Bolsonaro era realmente de alta. É importante lembrar: pesquisas do Datafolha só podem ser comparadas com outras feitas pelo Datafolha, com o mesmo método.

Jair Bolsonaro (PSL) está internado no Hospital Albert Einstein.
Jair Bolsonaro (PSL) está internado no Hospital Albert Einstein.

Foto: Flávio Bolsonaro / Divulgação / Estadão Conteúdo

Datafolha – divulgada em 10 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 24%
  • Ciro Gomes (PDT) – 13%
  • Marina Silva (Rede) – 11%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 10%
  • Fernando Haddad (PT) – 9%

Informações colhidas em 10 de setembro, margem de erro de dois pontos percentuais

Em 11 de setembro o Ibope divulgou sua primeira pesquisa após o ataque a Bolsonaro. Também acusou crescimento do candidato. No mesmo dia 11, o PT anunciou oficialmente que Haddad seria seu candidato, e começou a campanha pelo ex-prefeito de São Paulo.

O partido tenta transferir para Haddad os votos que o ex-presidente Lula teria, processo que pesquisas posteriores mostrariam bem sucedido. Esse levantamento do Ibope, porém, não sofreu influência desse processo: as informações foram colhidas entre 8 e 10 de setembro, antes do anúncio de Haddad.

Ibope – divulgada em 11 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 26%
  • Ciro Gomes (PDT) – 11%
  • Marina Silva (Rede) – 9%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 9%
  • Fernando Haddad (PT) – 8%

Informações colhidas de 8 a 10 de setembro, margem de erro de dois pontos percentuais

A pesquisa do Datafolha divulgada em 14 de setembro, com coleta de dados nos dias 13 e 14, trouxe os primeiros sinais de que a estratégia do PT estava funcionando. Haddad pulou de 9% para 13%, crescimento fora da margem de erro.

Bolsonaro oscilou dentro da margem em relação ao levantamento anterior do mesmo instituto. Comparando com a intenção de voto registrada na primeira pesquisa da série, porém, é constatada tendência de alta.

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad
O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad

Foto: Rodolfo Buhrer / Reuters

Datafolha – divulgada em 14 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 26%
  • Ciro Gomes (PDT) – 13%
  • Fernando Haddad (PT) – 13%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 9%
  • Marina Silva (Rede) – 8%

Informações colhidas em 13 e 14 de setembro, margem de erro de dois pontos percentuais

Assim como a pesquisa do Datafolha, o levantamento do Ibope também registrou a tendência de alta de Bolsonaro. A grande novidade, porém, foi a velocidade do crescimento de Haddad.

Enquanto o Datafolha, com dados colhidos de dois a três dias depois da oficialização e começo de fato da campanha do PT apresentando Haddad como candidato de Lula, mostrou crescimento de 4 pontos, o Ibope, com informações de até uma semana após o anúnciou, mostrou um avanço de 11 pontos do petista.

Ibope – divulgada dia 18 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 28%
  • Fernando Haddad (PT) – 19%
  • Ciro Gomes (PDT) – 11%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 7%
  • Marina Silva (Rede) – 6%

Informações colhidas de 16 a 18 de setembro, margem de erro de 2 pontos percentuais

A pesquisa divulgada pelo Datafolha em 20 de setembro confirmou a continuação da tendência de alta de Jair Bolsonaro e o crescimento de Fernando Haddad, já presentes na pesquisa Ibope publicada dois dias antes.

O avanço do petista mostrava que, naquele momento, a transferência dos votos de Lula acontecia em alguma medida. Não é possível, porém, até que ponto esse movimento da campanha de Haddad conseguirá absorver a popularidade do ex-presidente.

Datafolha – divulgada dia 20 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 28%
  • Fernando Haddad (PT) – 16%
  • Ciro Gomes (PDT) – 13%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 9%
  • Marina Silva (Rede) – 7%

Informações colhidas em 18 e 19 de setembro, margem de erro de 2 pontos percentuais

Os adversários de Bolsonaro não haviam conseguido, desde o começo da campanha, conter o crescimento constante do deputado nas pesquisas. Em parte, por causa da facada: o risco de críticas duras a um candidato convalescente no hospital terem efeito contrário ao desejado era considerável.

Com o tempo, porém, o quadro clínico de Bolsonaro melhorou, e criticar o candidato ficou menos arriscado. Concomitantemente, outros políticos se viram situação difícil nas pesquisas e precisaram reagir – mais notadamente Geraldo Aclkmin e Ciro Gomes. Bolsonaro voltou a ser alvo de ataques de outros candidatos.

Essa ofensiva dos adversários, aliada a declarações desastradas do vice da chapa do deputado, general Hamilton Mourão (PRTB), e de seu guru econômico, Paulo Guedes, são as prováveis principais causas da interrupção na sequência de altas de Bolsonaro no levantamento do Ibope divulgado em 24 de setembro.

A pesquisa também mostrou uma alta de Haddad, que encostou em Bolsonaro. Levando em conta a margem de erro, o petista podia ter 24% de intenção de voto, e o deputado, 26% (o cenário também pode ser de 30% para Bolsonaro e 20% para Haddad, por exemplo).

O avanço do ex-prefeito de São Paulo, porém, foi bem mais tímido que o registrado no levantamento anterior. Haddad ainda poderia absorver votos transferidos de Lula e conquistados de outros políticos – a candidatura de Marina Silva, por exemplo, derreteu e provavelmente é uma fonte de eleitores para o crescimento do petista –, mas não é possível saber até onde o fenômeno iria e nem em qual velocidade se daria.

Ibope – divulgada em 24 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 28%
  • Fernando Haddad (PT) – 22%
  • Ciro Gomes (PDT) – 11%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 8%
  • Marina Silva (Rede) – 5%

Informações colhidas em 22 e 23 de setembro, margem de erro de 2 pontos percentuais

Dois dias depois, outra pesquisa do mesmo instituto foi publicada. Os dois líderes variaram um ponto para baixo, dentro da margem de erro.

Como as informações dessa nova pesquisa foram colhidas num período com apenas um dia de diferença da anterior, era improvável que os resultados trouxessem alguma surpresa.

Ibope – divulgada em 26 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 27%
  • Fernando Haddad (PT) – 21%
  • Ciro Gomes (PDT) – 12%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 8%
  • Marina Silva (Rede) – 6%

Informações colhidas de 22 a 24 de setembro, margem de erro de 2 pontos percentuais

O destaque dos últimos dias de setembro foi o desentendimento público entre Jair Bolsonaro e seu vice, general Mourão. Mourão fez críticas ao 13º salário e ao abono de férias, declarações com potencial para causar estrago a qualquer candidatura.

Rapidamente, Bolsonaro reagiu, defendo com palavras duras esses direitos trabalhistas. O episódio passou a impressão de que a chapa do PSL não tem comando.

O caso se deu em 27 de setembro, momento em que a pesquisa Datafolha divulgada no dia 28 já tinha colhido parte de seus dados. Como o levantamento foi feito antes que os adversários da candidatura dos dois militares pudessem explorar o assunto, ainda não era possível saber se a trapalhada terá efeito negativo.

A pesquisa mostrou as intenções de voto do candidato do PSL no mesmo patamar em que estavam no levantamento anterior.

A notícia boa para a campanha de Bolsonaro é que o candidato teve alta do hospital. Ele ainda precisaria de repouso, mas, em casa, teria mais condições de tocar a própria candidatura. Mourão levou um enquadro e submergiu.

Fernando Haddad seguiu sua tendência de alta no Datafolha e passou de 16% para 22%.

Faltavam 8 dias para a eleição, e as chances de algum dos outros candidatos ir para o segundo turno ficaram mais remotas. As notícias de articulações para a etapa seguinte se tornam menos raras.

Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, principalmente, poderão ser forças políticas relevantes ainda depois da primeira rodada nas urnas, caso confirmem as intenções de voto registrada nesse levantamento. Seus 11% e 10%, respectivame, serão cobiçados.

Datafolha – divulgada em 28 de setembro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 28%
  • Fernando Haddad (PT) – 22%
  • Ciro Gomes (PDT) – 11%
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 10%
  • Marina Silva (Rede) – 5%

Informações colhidas de 26 a 28 de setembro, margem de erro de 2 pontos percentuais

A dúvida sobre o possível dano das declarações do general Mourão foram esclarecidas pelo levantamento do Ibope publicado em 1 de outubro. Bolsonaro não só não caiu como conseguiu subir acima da margem de erro, de 27% para 31%.

As informações foram colhidas em 29 e 30 de setembro, dias em que manifestações a favor e contra o candidato foram registradas em todo o Brasil – a maior delas foi contra, em São Paulo, e reuniu cerca de 100 mil pessoas.

É possível que o aumento nas intenções de voto ao deputado sejam uma resposta às mobilizações do fim de semana. Por ter colhido dados nos mesmos dias, porém, é necessário esperar nova pesquisa para ter uma dimensão mais precisa do impacto das manifestações.

Haddad, por sua vez, estacionou em 21%. O petista viu notícias negativas para sua campanha nos últimos dias, como a declaração de José Dirceu de que o PT tomaria o poder. Por ter sido na véspera do início da coleta de dados, a fala do petista muito provavelmente influiu de forma negativa.

Além disso, em 1 de outubro, o juiz Sérgio Moro levantou o sigilo de parte da delação premiada de Antonio Palocci. As reportagens extraídas das acusações do ex-ministro talvez impactem Haddad no próximo levantamento. Petistas acusaram Moro de interferir deliberadamente na campanha eleitoral.

Ibope – divulgada em 1 de outubro

  • Jair Bolsonaro (PSL) – 31%
  • Fernando Haddad (PT) – 21%
  • Ciro Gomes (PDT) – 11%
  • Geraldo Aclkmin (PSDB) – 8%
  • Marina Silva (Rede) – 4%

Informações colhidas em 29 e 30 de setembro, margem de erro de 2 pontos percentuais

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