A destruição do Museu Nacional é uma tragédia para a cultura, a ciência e a história do Brasil. Infelizmente, uma tragédia anunciada.
A instituição científica mais antiga do país foi vítima de décadas de descaso. De 2014 para cá, os cortes passaram a afetar até a verba de manutenção. O museu chegou a fechar as portas por falta de pagamento aos funcionários de limpeza e vigilância.
Em junho, a instituição completou 200 anos sem motivo para comemorar. Muitas salas de exposição estavam fechadas. Uma vaquinha virtual pedia doações para reabrir uma delas, que abrigava um enorme fóssil de baleia. A estrutura de madeira estava consumida por cupins.
Apesar do esforço dos servidores da UFRJ, os visitantes podiam notar o péssimo estado de conservação do palácio da Quinta da Boa Vista. O prédio agonizava: reboco caindo, paredes descascadas, fios elétricos expostos. A causa do incêndio ainda não foi divulgada, mas não era preciso ser bombeiro para ver que os riscos estavam lá.
O edifício consumido pelas chamas era tão valioso quanto seu acervo de 20 milhões de peças, que incluía fósseis de dinossauros e múmias egípcias. O palácio foi a primeira residência da família real no Brasil. Depois sediou a primeira Assembleia Constituinte da República, que editou a Carta de 1891.
No livro “1808”, Laurentino Gomes descreveu o local como “um prédio descuidado e sem memória”. “É como se nesse local a história tivesse sido apagada de propósito”, resumiu. O texto foi publicado há quatro anos. De lá para cá, a situação só piorou.
Segundo funcionários, o último presidente a pisar no museu foi Juscelino Kubitschek, que deixou o poder há 58 anos. Na cerimônia pelo bicentenário, nenhum ministro apareceu por lá. Agora todos vão dar declarações de pesar e prometer as verbas que sonegaram em nome do ajuste fiscal.
Um país morre um pouco quando destrói a sua própria história. A tragédia deste domingo é uma espécie de suicídio nacional. Um crime contra o nosso passado e contra as gerações futuras.