Abertura também contou com a compositora Jocy de Oliveira
POR BOLÍVAR TORRES / SILVIO ESSINGER
PARATY – Quando a mesa de abertura da 16ª Festa Literária de Paraty começou nesta quarta-feira, às 20h30m, com meia hora de atraso, a chuva, que antes minguava, apertou. As águas fortes da paixão, que se ouviam do lado de fora do Auditório da Matriz, lotado até os dentes, complementavam com muita propriedade a homenagem a Hilda Hilst, a intensa escritora cuja obra estará até domingo no centro dos debates do evento.
À frente da homenagem, a atriz Fernanda Montenegro e Jocy de Oliveira — duas mulheres não apenas contemporâneas de Hilda, como admiradoras de sua escrita. A atriz foi a primeira a entrar no palco, vestindo uma blusa vermelha. Arrancou aplausos ao ler trechos da obra da autora, como os impactantes versos dos livros “Júbilo, memória, noviciado da paixão” e “A obscena Senhora D”. E também alguns risos com passagens da crônica “EGE”, como a que fala em um fictício “esquadrão geriátrico de extermínio”.
Após a performance de Fernanda, foi a vez de Jocy complementar a apresentação com seu número musical. Duas sopranos cantaram a peça fantasmagórica “Ouço vozes que se perdem nas veredas que encontrei”, de 1981, escolhida por Jocy por ter diálogo direto com a temática da morte na obra de Hilda, descrita ainda como “transgressora”.
— Ela foi além do seu tempo. Encarna um universo único e nos representa como mulher — disse a instrumentista, que logo emendou a ópera “Medea”.
Inaugurado nesta edição, o Auditório da Matriz mostrou o clima intimista anunciado pela curadora do evento, Joselia Aguiar, com o público bastante próximo do palco. Do lado de fora, mesmo na chuva, o Auditório da Praça também lotou.