L I T E R A T U R A
Poeta Flávio Chaves
CANÇÃO DE SAUDADE DESGOVERNADA
Em teus lábios, ascende aurora que me inflama,
Canção cristalina e calma, amanhece janeiro sem abrigo
Como as ruas do menino que sempre vem comigo,
E o abraço que carregas em ti e em mim não passa.
Em teus olhos de ternura é onde nasce o girassol
E se ilumina em tua esfinge orientando o mar,
E elevas ventania à festa na paisagem dos pássaros,
Onde num idioma de fúria ditas som na flauta doce
Ofertando destino ao menino sem alarde buscando asas.
Acende meu peito, vem como quem passeia e esvoaça
Onde tudo incendeia o tumulto de procura alinhada
Abre-me serena o teu canteiro umedecido e tua praça
Em frenesi de águas-vivas que febril não passa
Vem que serás vida e sopro na canção de laço e dança abrasada
Enxergo tempo de horas lúdicas na vitrine de teus olhos
Onde escuto canção lírica e azul nos dias líquidos sem sol
De quem hoje é andarilho por tua saudade desgovernada.