Expedito Almeida procurou PF, que fez ‘ação controlada’ para flagrar duas entregas. Ele disse que dinheiro era para que não denunciasse senador Ciro Nogueira e deputado Eduardo da Fonte.
Por Camila Bomfim
A Operação Lava Jato acompanhou e registrou em vídeo, em fevereiro, duas entregas de dinheiro a José Expedito Rodrigues Almeida, ex-assessor do senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas.
A gravação foi uma “ação controlada” da Polícia Federal, isto é, uma operação planejada com o auxílio do próprio Almeida, que procurou a PF para denunciar um esquema de captação de propina de políticos do PP, entre os quais Nogueira e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE)
O advogado de Ciro Nogueira, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que não há “qualquer indício de envolvimento do senador com qualquer ilícito” (leia a íntegra da manifestação do advogado ao final desta reportagem).
Em nota, o deputado Eduardo da Fonte disse que está “à disposição da Justiça para que os fatos sejam esclarecidos rapidamente”.
As informações sobre as gravações estão detalhadas no material da investigação, ao qual a TV Globo teve acesso.
Segundo Expedito Almeida, o dinheiro – R$ 5 mil na primeira entrega, em 26 de fevereiro, e R$ 1 mil na segunda, em 28 de fevereiro – destinava-se à compra do silêncio dele.
O ex-assessor disse à PF que as entregas foram feitas pelo ex-deputado Márcio Junqueira, ex-PP, atualmente no PROS, com o objetivo de que ele, Almeida, ficasse calado ou mudasse o teor de depoimentos dados anteriormente – desfavoráveis a Ciro Nogueira e Eduardo da Fonte (PP-PE). Nos autos da investigação, Almeida afirma que os pagamentos foram feitos “com a ingerência direta desses dois”.
Junqueira foi preso na última terça-feira (24), mesmo dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca nos gabinetes e nos apartamentos funcionais do senador e do deputado.
O advogado do ex-deputado disse que teve acesso aos autos e que só depois de ler todos os documentos é que entrará com algum tipo de medida junto ao STF. “São 500 páginas. Estou me dedicando à leitura cuidadosamente porque tem muito diálogo, muitos detalhes. Eu acho que advogado bom só fala nos autos. Mas posso dizer que a defesa respeita a decisão do ministro [Edson] Fachin e tem muito trabalho pela frente para que eu possa estabelecer um conhecimento maior do que eu vou fazer daqui para frente. Espero que até quarta-feira, possa colocar algum tipo de medida ou pedido ao ministro Fachin”, disse Roberto Bertholdo.
Após a ação controlada, Ciro Nogueira, Eduardo da Fonte e Marcio Junqueira passaram a ser investigados por suspeita de obstrução de justiça.
A investigação apontou que, na primeira entrega, “houve nítidos diálogos captados na escuta com referência a Eduardo da Fonte”. Na segunda, em um shopping em Brasília, a Procuradoria Geral da República reproduziu imagens que mostram que no mesmo dia da entrega, o ex-deputado primeiro esteve na casa de Eduardo da Fonte e, depois, foi repassar o dinheiro a José Expedito.
O dinheiro recebido por Almeida foi apreendido pela PF. O ponto de partida dessa ação controlada foram quatro depoimentos prestados por ele em setembro de 2016, relatando que estava sendo ameaçado.
Hotel para guardar dinheiro
José Expedito Almeida prestou depoimentos anteriores a esses, que geraram a operação de terça-feira da PF. Nesses depoimentos, disse que repassava dinheiro a mando de Ciro Nogueira.
Essas revelações anteriores fazem parte do inquérito em que Ciro Nogueira e outros políticos do PP são investigados.
Em um dos depoimentos nesse inquérito, Almeida apontou um quarto de hotel em São Paulo usado para guardar dinheiro.
Segundo afirmou, era um quarto no Grand Plaza Hotel, na capital. “Eduardo da Fonte , Ciro Nogueira, Marcos Meira e Daividson Tolentino residiram no local por determinado período, sendo o mesmo utilizado para estocagem de dinheiro”, declarou.
Ele contou sobre relações do deputado e do senador com o advogado Marcos Meira e com Daividson Tolentino. Disse que Meira é amigo íntimo de Eduardo da Fonte.
Almeida disse ter arrecadado dinheiro para o deputado e repassado R$ 1,25 milhão para Meira.
O ex-assessor afirmou que transportou o dinheiro em espécie: R$ 900 mil teriam sido entregues no escritório de advocacia de Marcos Meira e outros 350 mil diretamente na casa dele, no Recife.
Sobre Daivison Tolentino, a testemunha diz que pegava dinheiro com ele a mando de Eduardo da Fonte e também de Ciro Nogueira.
Relatou que entre 2013 e 2014 foi ao Rio buscar R$ 50 mil a pedido dos dois parlamentares. Ele também contou que Daividson trabalhou no Ministério da Saúde por indicação política de Ciro Nogueira.
O G1 e a TV Globo tentam contato com Tolentino e Meira.
Defesa de Ciro Nogueira
Leia abaixo a íntegra de nota divulgada pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, responsável pela defesa do senador Ciro Nogueira:
A defesa do Senador Ciro Nogueira vem esclarecer que no Inquérito que investiga obstrução de Justiça não existe, sequer en passant, qualquer indício de participação do Senador. Ciro Nogueira teve seu telefone interceptado e o relatório da Policia Federal é favorável ao Senador e diz expressamente que nenhuma das conversas do Senador teve qualquer relação com os fatos investigados. E mais toda a Ação Controlada que foi feita só pode ser usada em favor do Senador pois em nenhum momento ha qualquer indício de envolvimento do Senador com qualquer ilícito. O Senador irà prestar depoimento a Policia Federal para esclarecer o que for necessário mas ressalta a sua indignação por ter sido alvo de uma busca e apreensão sem que tivesse qualquer motivo para uma medida tão invasiva. A defesa reitera que o Senador jamais tratou de pagamento a quem quer que seja e sempre colaborou com as investigações.