Lava Jato prossegue e Polícia Federal abre novos inquéritos contra ex-ministros

Delação de Sérgio Machado motiva investigação

Julia Affonso e 
Ricardo Brandt
Estadão

A Polícia Federal em Curitiba, base e origem da Operação Lava Jato, abriu novos inquéritos com base nos depoimentos da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Os alvos da investigação são Henrique Eduardo Alves (MDB), ex-ministro de Dilma Rousseff e Michel Temer e hoje preso na Lava Jato; Ideli Salvatti (PT), ex-ministra de Dilma; Edson Santos (PT), ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva; e os ex-deputados petistas Cândido Vaccarezza (SP) e Jorge Bittar (RJ).

OBRAS EM ESTALEIRO – A Federal abriu ainda um inquérito para apurar as obras do Estaleiro Rio Tietê, em atendimento a pedido do Ministério Público Federal, e um procedimento denominado Verificação Preliminar de Informações sobre seis empresas que, segundo o delator, ‘pagaram de forma continuada vantagens ilícitas, tanto em doações oficiais quanto em repasses em dinheiro’.

A investigação foi remetida pelo Supremo Tribunal Federal para a 13.ª Vara Federal, em Curitiba, sob tutela do juiz federal Sérgio Moro, e anexadas a um inquérito que investiga crimes no âmbito da Transpetro. Em outubro do ano passado, o magistrado determinou, após pedido da Polícia Federal e manifestação favorável do Ministério Público Federal, o desmembramento da delação de Sérgio Machado que atinge investigados sem foro por prerrogativa de função.

“RECURSOS PARA CAMPANHA” – O delegado Ivan Ziolkowski, responsável pela investigação, enviou, em dezembro, os depoimentos de Sérgio Machado para a Corregedoria da PF. A remessa faz parte do procedimento para a abertura de inquéritos. Machado declarou que Ideli Salvatti solicitou ‘recursos para campanha de 2010’. O delator relatou que ‘foi transferido, via doação oficial, o montante de R$ 500 mil pela Camargo Corrêa’ naquele ano.

Durante a sua gestão à frente da Transpetro, Machado diz ter repassado ao PMDB ‘pouco mais de R$ 100 milhões, cuja origem eram vantagens ilícitas pagas por meio de empresas contratadas pela Transpetro’. “Desse valor, R$ 1,550 milhão foi repassado ao deputado Henrique Alves, da seguinte forma: pela empresa Queiroz Galvão foi pago R$ 500 mil (2014); R$ 250 mil (2012); R$ 300 mil (2008); pela empresa Galvão Engenharia foi repassado R$ 500 mil (2010)”, disse.

O ex-presidente da Transpetro afirmou, ainda, que em ano de 2010, Vaccarezza o procurou e solicitou ‘apoio financeiro’. Segundo Machado, a empreiteira Camargo Corrêa transferiu R$ 500 mil para o diretório do PT. “O valor era oriundo de vantagens ilícitas pagas por empresa contratada pela Transpetro (Camargo Corrêa)”, declarou. Edson Santos, narrou o delator, ‘recebeu vantagem indevida, via ‘doação oficial’, pela Queiroz Galvão, no montante de R$ 142.400,00, no ano de 2014?. Bittar, de acordo com o ex-presidente da Transpetro, obteve RS 200 mil, em 2010, pelo PT, por meio da Queiroz Galvão.

CARTEL  E GRAVAÇÕES  – As investigações atingem ainda o Estaleiro Rio Tietê. A PF vai investigar um suposto cartel ligado ao arrendamento de uma área em Araçatuba, no interior de São Paulo, sem licitação, para construção de comboios para a Transpetro. Sérgio Machado foi um dos primeiros delatores a gravar os alvos de sua delação. Para se livrar da prisão, o ex-presidente da Transpetro registrou áudios de conversas com os caciques do PMDB, os senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) e o ex-presidente José Sarney (AP), nas quais predominou suposta tentativa de obstrução da Lava Jato.

Machado entregou em maio de 2016 à Procuradoria-Geral da República as gravações dos encontros com Renan, Jucá e Sarney. Nessas reuniões, os senadores e o ex-presidente teriam demonstrado intenção de tramar contra a Lava Jato. Jucá sugeriu ‘estancar a sangria’, em referência à maior operação já desencadeada no País contra a corrupção. Em julho do ano passado, no inquérito que investigava as declarações dos caciques peemedebistas, a delegada da Polícia Federal Graziela Machado da Costa e Silva desqualificou a colaboração de Sérgio Machado.

Em relatório de 59 páginas enviado ao Supremo Tribunal Federal, a delegada Graziela afirmou que o delator ‘não merece’ os benefícios da delação premiada. “No que concerne ao objeto deste inquérito, a colaboração que embasou o presente pedido de instauração mostrou-se ineficaz, não apenas quanto à demonstração da existência dos crimes ventilados, bem como quanto aos próprios meios de prova ofertados, resumidos estes a diálogos gravados nos quais é presente o caráter instigador do colaborador quanto às falas que ora se incriminam”, assinalou Graziela na ocasião.

VERSÕES –  O advogado Ticiano Figueiredo, que defende Ideli Salvatti, afirmou. “A delação do Sérgio Machado constitui exemplo clássico de colaboração desamparada de base empírica idônea apta a sustentá-la. Assim como aconteceu em outro caso, a defesa está muito segura que uma análise justa e isenta acarretara no arquivamento dessa investigação.”

O ex-deputado Edson Santos afirmou, por telefone. “Não tenho nada para falar desse negócio, essa mentira. O Sérgio Machado era para estar preso, isso foi uma verdadeira armação. O Sérgio Machado usou meu nome e de outras pessoas para entregar para a Polícia Federal. Não tenho problema em relação a isso. Não tenho nem advogado. Aquilo que ele falou no depoimento referente a um recurso para mim foi uma doação de uma empresa pra minha campanha, depositado no Banco do Brasil. Sérgio Machado, Jucá, essa turma aí, sinceramente… A verdade vai prevalecer”, disse.

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