Sócrates, Lula E Dirceu

…Todos beneficiados com a presunção de inocência, pois, como na boa regra das democracias. Faltando, agora, só esperar tempos melhores. No Brasil e em Portugal…

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Resultado de imagem para A Princesa E O Infante    Por José Paulo Cavalcanti Filho  –  Escritor, poeta,membro da Academia Pernambucana de Letras e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade.

Eça de Queiroz (em “As Farpas”) escreveu: Nós estamos num estado correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública. Contra esse vaticínio de Eça, o ex-primeiro ministro José Sócrates acaba de virar réu, em Portugal. Por corrupção passiva. Acusação 122/13.8 TELSB, com 3.908 páginas.
Trata-se da operação “Marquês”. Prefiro nossos nomes – “Juízo Final”, “Dolce Vita”, “Erga Omnes”. Agora, vai sofrer nas mãos do jovem juiz Carlos Alexandre. O Sérgio Moro de lá. Curioso é que tudo, nesse processo, faz lembrar nossa terra que tem palmeiras (ou tinha), onde cantam (ou cantavam) os sabiás. É só conferir.
Resultado de imagem para Sócrates, Lula E DirceuNem deveria estranhar, que Lula é íntimo de Sócrates. Tanto que fez prefácio para um livro dele, “A confiança no mundo”. Fosse pouco e o jornal “O Público” anuncia que haveria um plano de fuga para Sócrates. Em que passaria a “viver confortavelmente em um país da América do Sul”
Em 2006, chegando ao poder, Sócrates logo teria montado esquema junto a grandes grupos econômicos – entre outros Lena, Octapharma, Espírito Santo, PT (Portugal Telecom). Com pagamentos em dinheiro vivo, todos, essa era a regra. Fazendo negócios até longe, com parceiros amigos. Entre eles a Venezuela. E sempre tendo por trás o governo. Sem esquecer a grana que veio de um banco público, a Caixa Geral de Depósitos. Não podendo faltar, dando toque romântico à trama, um sítio. Para lazer nos fins da semana. No caso de Sócrates, o “Monte das Margaridas”, em Montemor-o-Novo. Tudo mostrando que tinha razão Camões (em “Os Lusíadas”), ao falar nos cristãos atrevimentos que se veria depois: Mas entanto que cegos e sedentos/ Andais de vosso sangue, ó gente insana,/ Não faltarão cristãos atrevimentos/ Nesta pequena casa lusitana.
Bem visto, é tudo muito parecido com o que aconteceu por aqui. Nem deveria estranhar, que Lula é íntimo de Sócrates. Tanto que fez prefácio para um livro dele, “A confiança no mundo”. Fosse pouco e o jornal “O Público” anuncia que haveria um plano de fuga para Sócrates. Em que passaria a “viver confortavelmente em um país da América do Sul”. Sublinhando que haveria referências ao Brasil, nos documentos apreendidos. Não estranha portanto que, nesse processo, dois brasileiros ilustres sejam citados. O ex-presidente Lula, em 9 itens. E o ex-ministro José Dirceu, em 15.
Em resumo, fica só a curiosidade em ver brasileiros no maior processo de corrupção da história de Portugal. Como coadjuvantes, é certo. E sem que se possa, nem deva, tirar conclusões a respeito. Por enquanto, ao menos. Nem penais. Nem morais. Todos beneficiados com a presunção de inocência, pois, como na boa regra das democracias…
Com relação a Lula, temos só relatos de encontros que buscavam permitir investimentos da PT por aqui. Especificamente, na aquisição da TELEMAR. Com gestões para obter financiamentos do BNDES. Sendo necessário, mais, que o governo brasileiro providenciasse alterações na Lei do Plano Geral de Outorgas. O que aliás fez, com o Decreto 6.654/2008. Quanto a Dirceu, sobretudo em depoimentos de Henrique Granadeiro (da Portugal Telecom) e Ricardo Salgado (ex-presidente do Banco Espírito Santo), há referência aos serviços prestados. Indicando os depoentes que seriam nomeados outros, diferentes, nas notas fiscais apresentadas por ele como pessoa física e por sua empresa (LSF). Para não despertar suspeitas. E já foram comprovados pagamentos de “pelo menos, 618.410 euros” (item 2.786 do processo). Cerca de 2,5 milhões de reais.
Imagem relacionadaEm resumo, fica só a curiosidade em ver brasileiros no maior processo de corrupção da história de Portugal. Como coadjuvantes, é certo. E sem que se possa, nem deva, tirar conclusões a respeito. Por enquanto, ao menos. Nem penais. Nem morais. Todos beneficiados com a presunção de inocência, pois, como na boa regra das democracias. Faltando, agora, só esperar tempos melhores. No Brasil e em Portugal.
Fora disso, nos restaria seguir Manuel Bandeira (em “Pneumotorax”) e tocar um tango argentino. Ou, na terrinha, lembrar a deusa Sophia de Mello Breyner Andresen (em “Exilio”): Quando a pátria que temos não a temos/ Perdida por silêncio e por renúncia/ Até a voz do mar se torna exílio/ E a luz que nos rodeia é como grades.

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