O Marcos Valério pernambucano

O Marcos Valério pernambucano

Preso na Lava-Jato, operador do esquema de corrupção de Aldemir Bendine, André Gustavo, repete o modelo montado para o PT e o PSDB

Por RENATO SOUZA – Correio Braziliense

O publicitário, citado nas delações de executivos da JBS, usava uma casa no Lago Sul para negociar a corrupção

Quem lê a denúncia apresentada contra o publicitário André Gustavo Vieira da Silva, pelo Ministério Público, logo lembra de outro caso famoso. O passo a passo do esquema de corrupção, apresentado à Justiça, guarda diversas semelhanças com as acusações contra o publicitário Marcos Valério, apontado como operador dos esquemas do mensalão tucano e do mensalão do PT e preso desde 2013. De forma parecida com a atuação de Valério, André Gustavo é acusado de usar empresas de comunicação para receber propina de empresários e entregar o dinheiro para políticos. No entanto, em vez de partidos, o suposto esquema de André Gustavo coloca o governo de Pernambuco no centro das acusações.

De acordo com a investigação, a empresa Arcos Comunicação, de propriedade de André, foi usada para lavagem de dinheiro. O estabelecimento foi usado para receber dinheiro ilegal repassado pelo frigorífico JBS. Os destinos das propinas seriam o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), o governador do estado de Pernambuco, Paulo Câmara e o prefeito de Recife, Geraldo Julio. Os valores repassados de maneira ilegal teriam sido usados para financiar a campanha na eleição de 2014.

O objetivo inicial seria financiar a campanha presidencial do ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente de avião em agosto de 2014. A propina foi redirecionada para os atuais acusados. A ligação do publicitário com políticos pernambucanos foi relatada pelo delator Ricardo Saud, em depoimento de delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato.

No caso de André Gustavo, os negócios ilegais ocorriam em Brasília, em sua casa no Lago Sul. Além de ser citado na delação de Ricardo Saud como operador de repasses ilegais a políticos pernambucanos, ele também usaria as mesmas empresas para receber dinheiro proveniente de propina e repassar ao ex-diretor do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine. Foi essa acusação que levou o empresário à prisão, por ordem do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.

Outra empresa usada por André é a MP Marketing, Planejamento e Sistema de Informação Ltda que, de acordo com o Ministério Público pode ser uma empresa de fachada, criada para mascarar a entrada de dinheiro ilegal. “Em verdade, há fortes evidências de que a MP Marketing é uma empresa de fachada, uma vez que, a despeito da profusão de atividades cobertas por seu objeto social declarado, o quadro de empregados da empresa durante toda sua existência foi absolutamente exíguo ou nulo”, afirma a força-tarefa do Ministério Público Federal na denúncia.

Em nota, o governador Paulo Câmara afirma que as acusações feitas na delação de Ricardo Saud são mentirosas. “Mais uma vez, venho repudiar, veementemente, a exploração política do depoimento do delator Ricardo Saud, que, já antecipo, não corresponde à verdade. Não recebi doação da JBS de nenhuma forma. Nunca solicitei e nem recebi recursos de qualquer empresa em troca de favores”, argumenta o governador. Já a assessoria do prefeito Geraldo Júlio afirmou que ele confirmou o encontro com o executivo Ricardo Saud, da JBS. No entanto, de acordo com a assessoria, o encontro teve como único objetivo solicitar doações legais para a campanha dele e do governador Paulo Câmara e, em nenhum momento, houve pedido de doação ilegal”.

A defesa de André Gustavo afirma que “A prisão é precipitada e que seu cliente vem colaborando com a Justiça”. Os advogados do publicitário afirmaram ainda que “a discussão de indícios de autoria, de prova ou materialidade vão ser auferidas duramente o inquérito, durante o processo”. Os advogados de Fernando Bezerra Coelho dizem que “todas as doações recebidas por ele foram por meios legais e aprovadas pela Justiça Eleitoral”.

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