Em grampo, lobista da JBS livra amigo de Temer de delação
Folha de S. Paulo – Camilla Mattoso, Bela Megale e Bruno Boghossian
Em uma ligação grampeada pela Polícia Federal, o lobista da J&F Ricardo Saud pede a uma pessoa para tirar o nome de José Yunes, ex-assessor e amigo de Michel Temer, da delação premiada que estava sendo negociada.
A J&F é a controladora da JBS, uma das maiores processadoras de carnes do mundo.
O telefonema entrou no relatório da PF, que destacou em documentos as principais conversas –mais de 3.000 ligações foram gravadas com autorização judicial.
Yunes é um dos melhores amigos de Temer e foi assessor especial de seu governo até dezembro, quando foi citado na delação do ex-executivo Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, como intermediário de um pacote com R$ 1 milhão que conteria dinheiro para campanhas do PMDB.
Saud contratou uma pessoa, de nome Rodolfo, para pesquisar endereços de entregas de propina que estariam em sua delação. No diálogo, o delator diz: “Sabe o que eu estava pensando? Naquele relatório… É… Você podia fazer para mim, que eu estou indo hoje para Nova York, para levar ele. Tira aquele negócio tudo que tem do Yunes…”.
Rodolfo responde concordando com a orientação, e Saud continua: “E põe só confirmando que nesse endereço mora… é o escritório de fulano de tal, põe tudo aquilo, amigo do cara, tal…. eu quero mostrar que você foi lá para mim e confirmar que lá era o coronel tal, tal, tal…”.
A referência feita pelo lobista diz respeito ao coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, também amigo de Temer. Ele é apontado pela JBS como receptor de propina de R$ 1 milhão ao presidente.
Papéis apreendidos na casa do coronel reforçam o elo entre os dois.
A Folha ouviu pessoas da JBS que afirmaram que o nome de Yunes chegou a entrar na delação por uma confusão de Rodolfo e por isso saiu.
O ex-diretor da empreiteira disse que Temer pediu apoio financeiro para o partido na campanha eleitoral de 2014 e que mandou entregar no escritório de Yunes parte de uma remessa de R$ 4 milhões que ficariam sob responsabilidade de Eliseu Padilha (PMDB-RS), hoje ministro da Casa Civil.
Em fevereiro, Yunes foi à Procuradoria-Geral da República e afirmou que Padilha pediu que ele recebesse em seu escritório alguns “documentos”, que depois seriam retirados de lá por um emissário. Ele declarou que o pacote foi levado, posteriormente, por Lucio Funaro, apontado como operador do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Yunes afirmou que não sabia do conteúdo do envelope.
As cláusulas das delações firmadas entre o Ministério Público Federal e os executivos da JBS preveem o cancelamento do acordo em caso de omissão de informações.
Em troca do relato dos crimes que cometeu e de que tinha conhecimento, Saud recebeu imunidade e não foi denunciado pela Procuradoria.