Sem vocação para dinastia

É PEDIR PARA  PERDER

  Heraldo Selva, do PSB       

 

Por Magno Martins

Por falta de opção, temendo correr o risco de sofrer o maior vexame político da sua história, o prefeito de Jaboatão, Elias Gomes (PSDB), se rendeu aos fatos e escolheu, ontem, um nome fora do seu partido para disputar a Prefeitura. Trata-se do vice-prefeito Heraldo Selva, do PSB, que o tucano não tolera e com quem já viveu uma dura relação, entre tapas e beijos, muito mais para tapas.

Além de forasteiro, Heraldo não tem densidade politica em Jaboatão, segundo maior colégio eleitoral do Estado. Como Conceição Nascimento (PSDB), preferida do prefeito, que acabou virando vice, o socialista parece inelegível: escasseiam seus votos. Mas Elias se acha o todo poderoso, imaginando ter forças de um Sanção eleitoral para emplacar o sucessor. Os ventos que sopram por lá indicam que vai malhar em ferro frio.

Jaboatão detém o maior conglomerado humano de almas sedentas pela palavra de Deus, os evangélicos, que nas eleições deste ano passam a ter um legítimo representante: o deputado Anderson Ferreira, da Assembleia de Deus, uma das maiores denominações do segmento. Por fora, correm outros candidatos que também atendem ao perfil do surpreendente eleitorado de Jaboatão, como é o caso do vereador Manoel Neco, do PDT.

Surpreendente, explico, porque nas eleições de 1947 o município entrou para a história brasileira por ter elegido um prefeito comunista. Manoel Calheiros foi, aliás, o primeiro prefeito comunista da história do Brasil. Estranhamente, porém, eleito pelo Partido Social Democrático (PSD), uma sigla reconhecidamente anticomunista. O PSD, um partido de aristocratas, da oligarquia, donos de usina, se juntou com os comunistas, que tinham na pauta, entre outras coisas, a reforma agrária. Foi um jogo político de concessões.

Em outras eleições pela frente, mais surpresas, dentre as quais Newton Carneiro, de histórias pitorescas, que já lotou o pátio da Alepe de caixões, episódio que o fez estampar os jornais em 1991. Newton comprou cerca de 400 ataúdes, que chegaram de uma vez só, sem aviso. O material teve que ser descarregado no pátio da Assembleia, causando a fúria do então presidente da Casa, Clodoaldo Torres.

Newton contabiliza que já fez 11 mil sepultamentos. Em outro episódio, andou de charrete pela cidade expondo um cartaz com os dizeres: “Faça como o deputado Nilton (sic) Carneiro. Não use gasolina cara do Seu Delfim… que vai subir mais ainda”. Cassado, Newton deixou como herança o seu vice Fernando Rodovalho, igualmente pitoresco, hoje aposentado da vida pública.

Por tudo isso, Jaboatão não tem tradição para dinastias. Heraldo é um tiro no escuro. Elias, que também chegou ao poder no município pelas características deste eleitorado, que vai de um comunista a folclóricos, acha que agora pode apagar a história, inventar a roda, quebrar paradigmas. Vindo do Cabo, o tucano é um forasteiro que conquistou dois mandatos, é verdade, mas não por ser diferenciado ou bom gestor, mas em cima de um grande vácuo político.

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