Premiado na França, artista brasileiro reproduz fielmente traços da realidade

Por Alana Rodrigues
Relações humanas, conceitos de comportamento social e autojulgamento são algumas das características que saltam aos olhos dos leitores da obra do quadrinista Marcello Quintanilha. Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1971, vive há 14 anos na Espanha, para onde se mudou depois de assinar um contrato com a editora belga Le Lombard, que publicou ícones dos quadrinhos como Tintim e Asterix.
Em janeiro deste ano, Quintanilha foi premiado na categoria Melhor HQ Policial no 43º Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême – o maior festival de quadrinhos da França – por seu álbum “Tungstênio”, publicado no Brasil há dois anos pela Editora Veneta. A primeira graphic novel do artista, ambientada em Salvador, na Bahia, é uma trama policial que narra, com suspense, uma confusão envolvendo um policial, sua esposa, um traficante de drogas e um ex-sargento.

Crédito:Marcello Quintanilha
Apesar da distância física, o quadrinista, que começou a publicar seus trabalhos em 1988 pela Bloch Editores, sob o pseudônimo de Marcello Gaú, carrega consigo cenários e personagens brasileiros, que lhe servem de inspiração: “A vida que conheci no Brasil e que me formou como ser humano, as experiências vividas por mim ou pessoas próximas, os bastidores do futebol, a história da MPB, a literatura brasileira e as figuras e coisas em torno dela, [tudo aparece na obra]”.
Para o artista, o desenho e a escrita são elementos indissociáveis no processo de criação dos quadrinhos. Ele explica que não concebe os personagens como feixes de traços estanques. “Acho que meus personagens se notabilizam por sua humanidade, exatamente por serem concebidos como pessoas reais, frequentemente sob critérios arquetípicos, e não como um amálgama de características isoladas.”
Quintanilha tem sete livros publicados no Brasil– “Fealdade de Gabiano Gorila” (1999), “O Ateneu” (2012) – ele adaptou para HQ a obra de Raul Pompéia –, “Salvador” (2005), “Sábado dos Meus Amores” (2009), “Almas Públicas” (2011), “Tungstênio” (2014) e “Talco de Vidro” (2015). O autor não tem um trabalho favorito. Segundo ele, todos traduzem em essência o que desejou expressar em cada momento específico.
Neste ano, lançou “Hinário Nacional” (Veneta), obra que reforça características o realismo, a linguagem coloquial e os temas populares, já conhecidas em sua obra. No novo trabalho, ele conta seis histórias distintas, cujos personagens vivenciam desejos, traumas e esperanças. “‘Hinário Nacional’ nasceu da minha intenção de lidar com os temas que sempre me motivaram. Em meu caso específico, culpa, incomunicabilidade, estoicismo e, sobretudo, a violência no cotidiano das relações humanas.

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