MUITA SEDE AO POTE
Revista inglesa lamenta as falhas do partido e afirma que o Brasil precisa de uma esquerda eficiente
Antes de traçar a trajetória do partido, enaltecendo a luta de Lula, um dos seus principais fundadores, e conectando as ideologias políticas do PT ao interesse da massa populacional desfavorecida, a revista questiona o que deu errado para o maior partido de esquerda da América Latina, apontando, logo em seguida, a ambiguidade ideológica como o principal motivo.
A política de polarização funcionou enquanto a economia estava em alta, quando havia dinheiro o suficiente para subsídios tanto para programas sociais quanto para o Brasil corporativo, diz o artigo. Esta política se voltou contra o PT quando o governo Dilma começou a entrar em colapso. O partido não soube dar uma resposta satisfatória às ruas em 2013, quando milhões de brasileiros protestaram por melhores serviços públicos e o fim da corrupção.
Para a Economist, no entanto, o retorno do PT à oposição pode ser vantajoso para o partido. O afastamento da presidente fornece a ele uma nova narrativa de vitimização política. Enquanto Dilma não é acusada de corrupção, muitos de seus acusadores são. O vice-presidente e agora presidente interino, Michel Temer, do PMDB, esforça-se para se defender das acusações do PT de que ele é uma das lideranças de uma ordem corrupta e reacionária.
Ao montar um gabinete composto exclusivamente por homens brancos, ele está levando o Brasil de volta ao início dos anos 1980. Ao adotar para si o slogan nacional de “Ordem e Progresso”, ele enaltece a elite positivista do final do século XIX, diz a Economist.
Enquanto isso, por mais ferida que esteja a sua imagem, Lula permanece como um favorito para as próximas eleições presidenciais. Em abril, pesquisas apontaram que ele tem o apoio de 21% da população. Ele pode contar com a memória pública do progresso social durante a sua presidência.
O Brasil, com sua desigualdade de riqueza e poder, precisa de uma esquerda eficiente. A falha do PT é, portanto, uma tragédia. Livre dos compromissos do poder, o partido vai migrar ainda mais para a esquerda, se reconectando com movimentos sociais e dificultando a administração de Temer.