O Apple Watch, que deverá tornar-se o artigo líder no campo da tecnologia “usável” ou “wearable”, abre novas possibilidades para a indústria de jornais
Da AFP
Para os analistas, esta nova tecnologia significa que o público se acostumará cada vez mais a consumir micro-notícias — Foto: SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
Dada a expectativa de que o relógio inteligente da Apple seja comprado por milhões de pessoas em todo o mundo, organizações de mídia já se preparam para se adaptar à pequena tela de pulso.
No negócio de notícias, a tendência está sendo chamada de “jornalismo de olhar” ou ” jornalismo de olhada”.
O Apple Watch, que deverá tornar-se o artigo líder no campo da tecnologia “usável” ou “wearable”, abre novas possibilidades para a indústria de jornais, ansiosa para se conectar com o público na era digital.
O New York Times diz que seu aplicativo para o Apple Watch trará “uma nova forma de contar histórias” e que seus editores atualizarão constantemente as notificações. Se um título que aparece no pulso atrai a atenção do usuário, será possível transferi-lo para seu iPhone ou iPad para mais detalhes.
O Yahoo! terá quatro aplicativos para o aparelho da Apple, incluindo um resumo das notícias que são atualizadas de hora em hora com “micro-resumos” dos eventos mais importantes.
A CNN e a Rádio Pública Nacional (NPR) também anunciaram seus aplicativos para o Apple Watch e esperam que outros meios de comunicação surfem na mesma onda.
Para os analistas, esta nova tecnologia significa que o público se acostumará cada vez mais a consumir micro-notícias.
“Estamos prestes a entrar na era do ‘jornalismo de olhar'”, afirmou Mario Garcia, da consultoria especializada Garcia Media e membro do Instituto Poynter para Estudos de Mídia.
“É mais difícil conseguir tirar um iPhone do bolso ou de uma bolsa em meio à confusão do metrô de Nova York do que dar uma olhada para o relógio (…). Por isso, prevejo que daremos muitos olhares e leremos as chamadas sedutoras que nos farão decidir se queremos continuar ou não a leitura”, explicou.
Fórmula perfeita – O surgimento da tecnologia “usável” fornece uma nova plataforma para a mídia: rápida, pessoal e sempre atualizada.
“A capacidade de acessar informações será muito mais rápida com o relógio”, disse à AFP Robert Hernandez, professor de jornalismo móvel na Universidade do Sul da Califórnia.
Para as redações, “será uma nova oportunidade de se tornar parte do corpo de uma pessoa”, comentou.
E o jornalismo encontrará uma maneira de usar o relógio inteligente: “quando o Twitter surgiu”, continuou o especialista, “as pessoas diziam que não seria possível fazer jornalismo com 140 caracteres, mas agora a rede tornou-se uma ferramenta essencial”.
Gilles Raymond, fundador e executivo-chefe do aplicativo News Republic, disse acreditar que o relógio inteligente será um importante meio de notícias e que o Apple Watch representa um grande desafio neste sentido.
“Quando há notícias de última hora, você quer acessá-las imediatamente. O relógio é a ferramenta perfeita para isso”, avalia Raymond, cuja empresa oferece aplicativos de notícias para smartphones e tablets.
Hoje em dia, os usuários de smartphones olham para o pequeno aparelho mais de 100 vezes ao dia. Com os relógios inteligentes este número pode subir para 300 ou 500 vezes diárias. “Vai ser um dispositivo muito viciante”, prevê.
Raymond disse que ainda há pouca experiência em lidar com as notícias para os relógios, mas organizações de mídia e os aplicativos estão se preparando para a invasão mundial do Apple Watch – que estará à venda em nove países a partir de 24 de abril.
Mas acima de tudo, a mídia terá que explorar “esta nova forma de construir uma relação” com os leitores, afirmou Raymond.
Mobilidade – Para aproveitar todo o potencial desta tecnologia, as organizações de mídia precisam encontrar a fórmula certa para entregar alertas e notificações curtos, sem se tornar invasivas ou incômodas.
Alan Mutter, ex-editor de um jornal de Chicago que agora é consultor de mídia digital, comentou que as organizações de mídia precisam pensar criativamente sobre como tirar proveito de novos equipamentos como estes.
“Esta tela tão pequena pode não ser uma extensão do que há no telefone celular”, disse Mutter. “É preciso pensar em como o consumidor usa o dispositivo e o que pode ser feito para torná-lo rentável”.
Mutter explicou que os usuários de relógios inteligentes não querem receber beliscões no pulso toda hora com alertas vibratórios dos meios de comunicação e que será necessário encontrar um equilíbrio.
“Talvez a notícia seja entregue a cada hora, ou um resumo das manchetes, ou pode ser um resumo de áudio que pode ser ouvido a partir do relógio via Bluetooth”, teoriza. “Vai ser preciso criar um conteúdo que se adapte ao meio”.