Ata revela clima de guerra no conselho da Petrobras

Documento interno sobre a reunião do conselho de administração da Petrobras que elegeu Aldemir Bendine para a presidência mostra a revolta dos conselheiros independentes

O atual presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, escolhido para comandar a Petrobras
Aldemir Bendine foi escolhido em fevereiro para comandar a Petrobras(Nacho Doce/Reuters)

Apesar de nunca divulgar seus documentos internos, a Petrobras tornou pública na última quarta-feira, dia 11 de março, um extrato da ata da reunião do conselho de administração que escolheu Aldemir Bendine para a presidência da companhia. O documento, disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tem cinco páginas e é apenas um resumo do que se passou nas quatro horas em que estiveram reunidos os conselheiros e diretores da empresa, no último dia 6 de fevereiro. Sua leitura, porém, é suficiente para entender que a indicação de Bendine foi tensa e aconteceu em clima de guerra conflagrada entre os conselheiros independentes e os representantes do governo, que controla a empresa. Em bom português, o pau quebrou. Acusações de manipulação política e desrespeito às regras de governança da empresa foram várias vezes reiteradas, e até um pedido de renúncia dos conselheiros ligados à Dilma Rousseff foi feito. Como se sabe, apesar dos protestos, o ex-presidente do Banco do Brasil assumiu o cargo. Dos nove conselheiros da Petrobras, seis são nomeados pelo governo. A reunião aconteceu em São Paulo. Os diretores demissionários e a presidente Graça Foster participaram por teleconferência, do Rio de Janeiro, de parte dela.

O nome de Bendine foi indicado pela presidente Dilma em meio à crise provocada pela renúncia de cinco dos sete diretores da empresa e da presidente, Graça Foster. Eles se rebelaram depois que o governo vetou a inclusão, no balanço da companhia, de um cálculo de perdas derivadas do petrolão que chegava a 88,6 bilhões de reais. Embora tivesse sido feito por consultorias independentes contratadas por ordem do próprio conselho — que concordou inclusive com o método de cálculo. Dilma não gostou do número, considerado muito grande, e simplesmente o vetou. Em sua fala, o conselheiro José Monforte apoiou a diretoria demissionária e disparou: “A forma como são conduzidos assuntos críticos para a companhia, por parte do acionista controlador, fere os princípios mais comezinhos da boa governança. (…) Fiquei sabendo pela imprensa de supostas reuniões entre conselheiros indicados pelo acionista controlador, reservadamente. Mais uma vez, submeteu-se o conselho de administração ao constrangimento de ir se informando através de relatos da imprensa.” Segundo Monforte, além de ilegal, o movimento do governo foi temerário, porque deixou a companhia “acéfala”.

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