Sapos vermelhos tremem nas bases

    Por  José Adalberto Ribeiro

A eleição do peemedebista Eduardo Cunha para presidente da Câmara dos Deputados sinaliza a derrota e a fragilidade do PT no Congresso Nacional. Cada momento histórico tem suas coordenadas, naturalmente, mas vale lembrar algumas linhas paralelas.
O impeachment de Collor só aconteceu em 1992 porque o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, deixou rolar.
O episódio deste ano faz lembrar, por tabela, a parelha Lula-Severino Cavalcanti em 2005. O caso eu conto como foi o caso do Impeachment que não houve.

No correr de 2005, no auge do Mensalão, o Governo de Lula chegou a mergulhar próximo ao fundo do poço, com credibilidade zero, sinais de desagregação e instabilidade. Sabe quem deu uma mãozinha e certamente evitou o Impeachment do sapo vermelho? Um camarada chamado Severino José Cavalcanti Ferreira, o popular Severino Cavalcanti, também conhecido nas rodas de capoeira, como Biu Miracapillo. Isto não é lenda. É de vera.

O inquisidor do Padre Miracapillo havia sido eleito presidente da Câmara numa eleição zebrada com o petista Luiz Eduardo Greenhalgh, aquele sujeito do bigode stalinista que atuava na indústria milionária da anistia aos ex-presos políticos. Severino tornou-se o representante do chamado “baixo clero”, a mundiça do Congresso Nacional. Greenhalgh era da elite, amigo do peito do sapo vermelho e dos bichos do mensalão. Severino prometia aumentar o salário dos deputados, mordomias, comilanças em geral.

A eleição foi decidida em segundo turno, Severino recebeu 300 dos 498 votos presentes, Greenhalg levou fumo com 195 votinhos.
Severino reinou nos tapetes da fama como presidente da Câmara dos Deputados até ser flagrado naquela esparrela do “Mensalinho” e renunciar ao cargo em setembro de 2005. Ser presidente da Câmara é reinar no paraíso como o terceiro nome na linha da sucessão presidencial, depois do presidente e do vice-presidente da República.

Naqueles tempos do Mensalão havia tempestades, raios e trovoadas em Brasília. Assim choveram nas mãos de Severino vários pedidos de Impeachment contra o sapo vermelho. Foram pedidos de várias entidades, entre elas da OAB, num total de sete.
Enquanto comia amendoim e tomava xarope de catuaba, Severino olhou a papelada e pensou o seguinte: eu não vou deixar rolar esses pedidos de Impeachment porque se o bicho pegar meu amigo Lula pode se lascar, vai ficar arretado comigo e eu vou perder uma boquinha no Planalto. Entonces, engavetou os pedidos. É vero e dou fé.

Assim foi salva historicamente a república dos sapos barbados.Ainda hoje o sapo vermelho é grato a Severino, admitindo-se que o bicho vermelho tenha sentimento de gratidão por alguém.

Encontrei naquela época com o então ex-ministro e presidente da Fundaj, Fernando Lyra, no Aeroporto dos Guararapes, e perguntei a ele: “Como vai o governo em Brasília”. Ele respondeu: “Que governo?! O mundo desabou em Brasília”. Foram estas mais ou menos as palavras dele, que bem conhecia os meandros do poder. Aproveito para dar meu testemunho: Fernando Lyra tinha bom coração e bons sentimentos. Reverencio a sua memória.

A leniência das oposições, a frouxidão, para ser mais claro, também contribuiu para evitar a desagregação total e o Impeachment do presidente Lula. Alguns líderes oposicionistas consideravam temerário aprofundar a crise, para não haver ruptura institucional.
Atualmente, as tempestades de corrupção, as sangrias na economia e nas contas públicas conspiram contra o governo.

Os passaralhos de Brasília contam que o dep Eduardo Cunha é cobra criada e não vai dar trelas ao Palácio do Planalto.
O dep Eduardo Cunha pode ter outros defeitos, mas com não é um pau mandato do cordão encarnado. Os sapos vermelhos tremem de medo de um pedido de Impeachment nas mãos dele.

* Jornalista  –   joseadalbertoribeiro@gmail.com 

 

fonte:blogdomagnomartins

 

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