Eleonora Arroyo encerra Filig traçando um panorama da ilustração argentina

Palestra de encerramento do Filig

Palestra de encerramento do Filig

O Festival Internacional de Literatura Infantil de Garanhuns, o Filig, terminou, no domingo (12), Dia das Crianças, emocionando os adultos encantados pela arte da ilustração de livros infantis. A argentina Eleonora Arroyo, que nas oficinas havia falado aos adultos sobre a Chapeuzinho Vermelho ao longo dos tempos e com as crianças sobre as colagens , trouxe para a última atividade um panorama histórico e estético da ilustração do seu país.

A apresentação foi uma verdadeira aula sobre a evolução das obras argentinas voltadas para as crianças desde o início do século passado, quando elas só estavam nos livros didáticos e nas revistas, até os dias de hoje, período em que estão consolidadas, ainda que os profissionais enfrentem algumas lutas, com relação ao pagamento de direitos autorais, como também acontece no Brasil.

Eleonora contou que, com a primeira guerra mundial, as editoras estrangeiras, em sua maioria alemãs e francesas, tiveram que deixar o país, aumentando a produção na Argentina. A partir da década de 1960, o destaque foi para coleções que tinham o objetivo de levar o melhor da literatura para todos com preço baixo, como a “Cuentos de Polidoro”, e de histórias simples e sem didatismo, como “Los cuentos de Chiribitil”. Atualmente, segundo a artista, os livros argentinos têm se dedicado muito mais ao prazer que a literatura proporciona do que ao seu caráter didático. Um exemplo disso pode ser visto nas peças que mostram a delicadeza do trabalho de artistas conterrâneos como Célia Afonso Esteves, Istvander e Nora Hilb.

Em seus trabalhos, que foram mostrados durante a palestra, a ilustradora procura primeiro criar o clima para depois mergulhar na narrativa e nas suas criações, muito baseadas no construtivismo russo. Eleonora trabalha com vários papéis e texturas para compor os cenários onde são colocados os personagens. A artista, que atua fazendo experimentações, está pesquisando como armar as cenas com volumes e fotografias. Como considera que na Argentina não há muita arte popular, vai buscar inspiração nos países do leste europeu e à arte primitiva de qualquer parte do mundo.

Embora atue com as imagens e as considere universais, acredita também que as palavras devem estar em todos os livros, contando a história. Mas Eleonora não quer criar essas narrativas. “Não sei escrever duas palavras juntas. Posso imaginar uma cena, mas dar a ela um desenvolvimento é impossível para mim”, contou.

Da própria infância, a ilustradora lembra que os pais não costumavam ler histórias para ela, mas que adorava os livros. “Não lembro dos textos, lembro das imagens. Até hoje sinto o mesmo que sentia quando tinha 5 anos”, conta a ilustradora que revela ter vivido de forma comum às meninas argentinas de classe média. Quando era criança e fazia viagens de carro com os pais, enquanto eles ouviam jazz, observava a estrada e imaginava silhuetas, o que percebeu ter deixado ecos ao entrar no teatro de sombras. Até hoje, a artista brinca dizendo que sua mente pensa de forma infantil.

Eleonora começou seu trabalho estudando artes e fazendo aulas de pintura por muitos anos, até participar de um concurso para ilustrar um conto. “E aí disse: ‘Sou ilustradora’. É mágica!”. Como conselho para quem tem o sonho de também tornar-se ilustrador, a argentina diz: “Que se cultivem”.Para a artista, é importante hábitos como escutar música, ir a peças teatrais, ler muito e sair do imediatismo.

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