“Deixamos de ser só testemunhas”, diz correspondente em Israel sobre decapitações

Por Daúbia Paraizo

Durante visita relâmpago ao Brasil para o lançamento do livro “Aparecida” (Globo Livros), biografia da santa padroeira do País, Rodrigo Alvarez, correspondente da Globo no Oriente Médio, falou à IMPRENSA sobre os desafios da cobertura do conflito entre Israel e Palestina.

Com residência em Jerusalém desde fevereiro de 2013, o repórter contou como é o dia a dia na região e os riscos do trabalho, ressaltando a importância dos treinamentos para zonas de conflito. “Precisamos saber onde estar posicionados e, principalmente, não tentar dar uma de herói enfrentando perigos desnecessários. O repórter deve relatar os fatos, contar histórias – e não tentar ser, ele próprio, o personagem delas”.

Crédito:Divulgação/ TV Globo
O jornalista Rodrigo Alvarez durante a gravação da série Expedição Xingu

Ainda sobre a vida como correspondente, Alvarez lamentou as recentes decapitações de dois jornalistas norte-americanos pelo Estado Islâmico. “Em nome de uma interpretação distorcida do que é o islamismo, eles vão matar todos aqueles que aparecerem pelo caminho […]. É mais um capítulo triste na história da humanidade. E nós jornalistas, lamentavelmente, deixamos de ser só testemunhas”.

Ele que começou a carreira na GloboNews como editor de imagens em 1996, passou a atuar como repórter pouco tempo depois. Foi correspondente da Globo em Nova York, onde cobriu a morte do cantor Michael Jackson em 2009, e a eleição presidencial norte-americana em 2010, que rendeu o livro “Obama”. No mesmo ano, cobriu o terremoto no Haiti, que estima-se ter vitimado até 200 mil pessoas. O episódio também foi retratado em uma obra. No Brasil, fez grandes reportagens para o “Fantástico”, como a série Expedição Xingu.

 

IMPRENSA – Esta é a primeira vez que você vem ao Brasil desde que se tornou correspondente em Jerusalém. Como tem sido a experiência no Oriente Médio?

RODRIGO ALVAREZ – É tenso e importante. Tenho que ler e me atualizar muito, ler bons artigos e conversar muito, tanto com especialistas quanto com o povo nas ruas para estar por dentro do clima. Fora isso, é preciso fazer reflexões constantes, para entender exatamente onde estou pisando.

Recentemente, dois jornalistas foram decapitados por extremistas do Estado Islâmico. Por que acha que os profissionais de imprensa se tornaram alvo do grupo?

O Estado Islâmico é bárbaro e desumano, usa de qualquer método para conseguir o que quer. E neste momento eles pretendem criar um novo país, o tal do califado. Em nome de uma interpretação distorcida do que é o islamismo, eles vão matar todos aqueles que aparecerem pelo caminho e não pertencerem exatamente ao mesmo grupo sanguinário que eles. É mais um capítulo triste na história da humanidade. E nós jornalistas, lamentavelmente, deixamos de ser só testemunhas.

Em algumas reportagens você aparece muito próximo de bombardeios. Que tipo de cuidados você tem com a segurança?

Todos nós, correspondentes da Globo, passamos por um extenso treinamento que nos prepara para trabalhar em áreas de conflito e com outros tipos de riscos. Usamos capacetes, coletes e – quando necessário – máscaras antigás. Risco existe, assim como também em coberturas de manifestações nas ruas brasileiras, ucranianas ou turcas. Precisamos saber onde estar posicionados e, principalmente, não tentar dar uma de herói enfrentando perigos desnecessários. O repórter deve relatar os fatos, contar histórias – e não tentar ser, ele próprio, o personagem delas.

Há um acordo entre os correspondentes de se apoiarem e tentarem dar cobertura uns aos outros em áreas de conflito? Como é o clima entre os jornalistas “concorrentes”?

Numa guerra não dá para pensar em cuidar dos outros quando se está vigiando a própria cabeça. O cinegrafista Jeremy Portnoi e eu nos apoiamos muito, somos parceiros o tempo todo e, aí sim, posso dizer que nos damos cobertura. Se ele está muito concentrado na câmera eu preciso estar atento ao ambiente. Se eu estou escrevendo ou editando algo, cabe a ele essa missão de nos vigiar.

 

Quando surgiu o interesse de escrever sobre Nossa Senhora Aparecida?

A pesquisa começou em 2011, quando eu ainda morava em São Paulo. Meu interesse era por uma personagem que faz parte da História do Brasil, um símbolo nacional que surgiu antes do futebol, do samba, da nossa bandeira e antes mesmo da palavra “brasileiro” definir nosso povo. Decidi escrever a biografia de Aparecida no momento em que percebi que não existia um relato completo e atualizado sobre aquela que, carinhosamente, chamo de santinha no livro.

Pode contar um pouco sobre o processo de apuração? É um livro de história ou mais jornalístico, focado no factual?

A pesquisa se baseou em diários (grande parte inéditos), documentos históricos,  entrevistas e bibliografia. Li algumas dezenas de livros sobre religião e história do Brasil. Além disso, fiz milhares de fotografias dos lugares que serviram como cenário para as histórias que aconteceram nesses três séculos. ‘Aparecida’ é um livro de história, contado por um jornalista. E entendo que a soma disso é um rigor de apuração somado a um texto leve, ágil, com uma grande preocupação em fazer com que a leitura seja agradável do começo ao fim.

fonte:PI

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