Flip, dia 1: Debate entre os jovens autores Eleanor Catton e Joël Dicker foi o destaque

Eleanor Catton e Joël Dicker, na Flip 2014 (Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo)
Eleanor Catton e Joël Dicker, na Flip 2014 (Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo)

Oficialmente, a 12ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começou na quarta-feira (30). Mas bastava dar uma volta pela cidade e conversar com meia dúzia de pessoas para ver que a versão oficial não correspondia à realidade. Os organizadores até se esforçaram ao recrutar Gal Costa para o show de abertura e chamar os humoristas Hubert e Reinaldo, do Casseta e Planeta, para entrevistar o cartunista Jaguar e fazer uma homenagem a Millôr Fernandes. A conversa teve momentos divertidos, como o relato de uma inusitada briga de cusparadas entre Millôr e Chico Buarque num bar do Leblon. O show de Gal comoveu quem estava perto do palco e formou um pequeno aglomerado de pessoas em frente ao telão da Praça da Matriz. Foi um sucesso com cara de ensaio geral. As multidões de fãs de literatura que costumam invadir a cidade durante o evento ainda não tinham chegado. Os escritores convidados ainda estavam a caminho.

O evento começou de verdade nesta quinta-feira, com as primeiras mesas dedicadas à literatura. O poeta Charles Peixoto, a escritora Eliane Brum e o poeta e ator Gregorio Duvivier empolgaram o público num debate sobre prosa e poesia. Em seguida, o escritor Vladímir Sorokin, primeiro russo a participar de uma Flip, falou sobre literatura russa e política ao lado da ensaísta americana Elif Batuman. Sorokin comparou a experiência de ler Dostoiévski a uma “carnificina psicológica” e criticou o estilo do autor. “Ele escrevia muito rápido e às vezes nem relia o que escrevia. Nabokov odiava Dostoiévski”, diz. Noutro momento, comparou a importância da literatura russa ao poder transitório de seus governantes. “Putin vem e vai. O romance fica.”

O destaque do dia foi a mesa das 17h15, que reuniu dois dos nomes mais incensados da literatura atual. De um lado, Joël Dicker, o escritor suíço de 29 anos que vendeu mais de 2 milhões de exemplares e ainda arrebatou a crítica com seu romance policial A verdade sobre o caso Harry Quebert. Do outro, a neozelandesa Elanor Catton, de 28 anos, que venceu o Man Booker Prize com Os luminares, também um livro de mistério, com mais de 800 páginas. Numa mesa intitulada “Fabulação e mistério”, os dois apresentaram suas obras, leram trechos selecionados e explicaram o caminho que percorreram para definir a estrutura de seus romances. O escritor José Luiz Passos desempenhou um papel clássico em eventos literários: o de mediador que fala mais do que os mediados. Mesmo assim, suas perguntas renderam boas declarações dos dois. Catton descreveu a experiência de escrever Os luminares como “difícil, mas recompensadora”, e deu uma bela definição de suspense na literatura: “O livro de mistério é fundamentalmente um livro sobre o leitor, para o leitor, voltado para os desejos do leitor”. Dicker discorreu sobre a verdade e a história na ficção policial. “Queria mostrar não apenas uma verdade, mas a verdade de todos os personagens”, disse ele sobre o livro.

Na sexta-feira, a não-ficção promete ser a principal atração, com o americanos Michael Pollan, escritor e ativista especialista em comida, e Andrew Solomon, famoso por seus livros sobre psicologia.

 

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