Pela 1ª vez, Venezuela pede ajuda internacional para mediar crise

Forças de segurança da Venezuela prendem manifestante (foto: Reuters)

Governo venezuelano dá a entender que gostaria de ajuda brasileira em crise interna

O governo do presidente Nicolás Maduro pediu à Unasul o envio de uma comissão de observação para a Venezuela. O objetivo alegado seria contribuir à distensão da crise que se arrasta desde fevereiro provocada por protestos estudantis convocados pela oposição.

O pedido de ajuda ao organismo foi feito ao presidente pró-tempore do bloco, Desiré Bouterse, do Suriname. Madro quer discutir a crise no Conselho Presidencial da Unasul.

Com a ação, a Venezuela tenta limitar a discussão da crise a países vizinhos – excluindo por exemplo a possibilidade de influência de Washington caso o assunto seja levado à OEA (Organização dos Estados Americanos)

Logo depois do anúncio do pedido, em entrevista a uma rádio local, o chanceler venezuelano Elias Jaua disse que o país pretende denunciar à Unasul que há uma tentativa de ruptura da ordem constitucional por parte da oposição.

“O país está enfrentando uma situação que não está relacionada com protestos pacíficos e sim de protestos violentos (…) há grupos armados enfrentando corpos de segurança”, afirmou Jaua.

“A única mediação internacional que eles estão interessados é a da Unasul (…) como garantidora de uma opção de paz no país”, afirmou Marco Aurélio Garcia em Caracas.

A Assembléia Nacional deverá aprovar nos próximos dias o pedido de ajuda da Unasul.

Garcia conversou na noite da quarta-feira com o presidente Nicolás Maduro. No encontro o mandatário venezuelano teria dado a entender que contaria com o apoio do Brasil para dirimir a crise interna. “Maduro disse que o Brasil pode cumprir um papel muito grande na busca de uma solução de paz”, afirmou Garcia.

No entanto, não foi oficializado um pedido para que Brasília lidere uma mediação com a oposição radical venezuelana. “E nós não somos oferecidos. Eu disse ao presidente Maduro que o que for necessário que o Brasil faça para alcançar uma solução de paz no país, poderá contar conosco”.

Marco Aurélio Garcia foi enviado pela presidente Dilma Roussef para participar das cerimônias em homenagem ao líder venezuelano Hugo Chávez, morto há um ano, e para conversar sobre a crise que coloca em risco a estabilidade do país.

“Claro que estão preocupados (governo) e estão tentando encontrar uma solução”, afirmou Garcia. “Agora o que é evidente é que medidas econômicas precisam de um certo clima político para serem adotadas.

Vizinhos

A aposta da diplomacia venezuelana é limitar a discussão da crise interna aos vizinhos sul-americanos. A iniciativa do Panamá de convocar uma reunião extraordinária da Organização de Estados Americanos (OEA) para tratar da Venezuela custou caro. Maduro anunciou na quarta-feira a ruptura de relações diplomáticas e comerciais com o governo panamenho, acusando-o de “ingerência” em assuntos internos.

O governo venezuelano tenta evitar a atuação indireta do governo norte-americano – com o qual mantém severas tensões desde a chegada de Hugo Chávez ao poder – por meio da OEA.

A opção por tratar o problema “em casa” começou na semana passada, quando o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Elias Jaua, fez um périplo pela região para explicar aos vizinhos a dimensão do novo enfrentamento político nas ruas.

Em seguida, Jaua viajou à Genebra para conversar com o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, numa tentativa de conter a onda de críticas vindas principalmente da Casa Branca.

Violência

A ala da oposição que convocou a população às ruas aponta a inflação e a escassez de produtos da cesta básica como exemplos da crise provocada pelo “chavismo”.

Os focos e o número de manifestantes vêm diminuindo nos últimos dias, porém, os protestos vêm assumindo características mais violentas. O objetivo final dos estudantes que permanecem nas ruas – a maioria de classe média – é levar Maduro à renúncia.

O assessor especial da Presidência do Brasil disse compartilhar a visão do governo venezuelano de que os protestos opositores – que já levaram a 20 mortos e centenas de feridos – estão sendo magnificados pelos meios de comunicação.

“No passado houve circunstâncias bastante mais graves que a atual. O problema é que essa crise ganhou uma projeção internacional talvez maior que em outras circunstâncias”, afirmou.

Garcia disse não acreditar que a aposta da oposição de extender os protestos por um longo período possa levar o país a um ambiente de ingovernabilidade ou de guerra civil.

“Quem estiver pensando nisso perdeu o juízo, está doente da cabeça”, afirmou. Garcia disse, no entanto, que se houver uma escalada de violência, o perigo existe.

Garcia disse voltar à Brasília mais tranquilo após ver de perto a situação do país. “Não é uma situação de caos. Nós não estamos em Kiev. É preciso ter isso muito claro”.

BBC Brasil

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