Eles vão empatar a sua vista no carnaval 2014

Grupo de foliões ligados ao movimento Direitos Urbanos está fazendo sucesso com o bloco Empatando a Tua Vista
Foliões têm aderido à proposta do bloco e demonstram apoio à brincadeira. Foto: Ednéia Alcântara/Divulgação
Foliões têm aderido à proposta do bloco e demonstram apoio à brincadeira. Foto: Ednéia Alcântara/Divulgação

A irreverência é uma das principais marcas dos blocos e troças carnavalescas que tomam as ruas do Recife e de Olinda no início do ano. O humor e a brincadeira às vezes encontram temas de interesse social, tranzendo para a folia a reflexão e o espírito crítico. Este é o objetivo da Troça Carnavalesca Mista Público-Privada Empatando A Tua Vista, organizada pelo grupo Direitos Urbanos.

Com o intuito de “homenagear a nova paisagem da cidade e o que vai ficar no lugar do seu patrimônio histórico”, ela foi lançada no dia 13 de fevereiro em uma das edições do Som na Rural. E para fazer valer a crítica, os participantes seguem com prédios construídos com armações e tecidos erguidos entre os foliões. Despertando curiosidade por onde passa, a troça já esteve no desfile dos blocos Os Barbas,  Amantes de Glória e Pisando na Jaca. A próxima aparição será no Galo da Madrugada, Bloco do Nada e Escuta Levino

“A ideia surgiu no ano passado e é filha direta do projeto Novo Recife que pretende empatar a vista do Bairro de São José. Mas como já estava muito próximo do carnaval, resolvemos sair só neste ano. É uma sátira política, uma intervenção urbana. Já temos várias ideias, mas ainda não tem nem um mês então estamos nos organizando. Fazemos mutirão e é bastante corrido porque todos trabalham e a quantidade de gente participando já aumentou”, conta o designer Cláudio Torres, 48, idealizador da troça.

Estrutura dos prédios é feita com PVC coberto por tecido. Foto: Ednéia Alcântara/Divulgação
Estrutura dos prédios é feita com PVC coberto por tecido. Foto: Ednéia Alcântara/Divulgação

A reação dos foliões está surpreendendo os próprios organizadores. A engenheira civil e doutora em desenvolvimento urbano, Edinéa Alcântara, 52, diz que a população está se identificando com a proposta. “As pessoas estão entendendo e algumas já param, tiram foto, elogiam… estou achando surpreendente. Já ouvimos dizer ‘parece que estou em Boa Viagem’, então há uma identificação porque estão sentindo o sofrimento desse novo padrão urbanístico da cidade, onde empatam tua vida, tua rua, impedindo que os outros vejam a cidade. A lei precisa mudar, precisa atender aos interesses da sociedade”, explica.

Edinéa conta que pessoas de todas as idades estão colaborando, aumentando o grupo e a troça. “Cada um procura ajudar de um jeito. Tem gente que colabora com dinheiro, dando o que pode porque cada fantasia de torre custa em média R$50 e a gente que faz, outros tiram fotos e procuram divulgar. No primeiro dia saímos com 8 prédios, nessa última vez já tínhamos 14. Também estão surgindo convites de outros blocos para que a gente faça intervenções”, conta.

A historiadora Cibele Barbosa, 33, que acompanha a troça conta que estão criando outras formas de intervenção. “A princípio era só os prédios, mas foram surgindo paródias que vamos cantando, como ‘a cidade vai crescer, o Recife vai parar’. Por ser um protesto contra a verticalização da cidade através da sátira, a ideia é convidar as pessoas a pensarem conosco sobre o assunto. E por afinidade elas vão se juntando”, diz.

DP

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