Ativista brasileira detida após protesto na Rússia chega a Porto Alegre

Após dois meses presa na Rússia, a bióloga brasileira Ana Paula Maciel, 31, voltou na manhã deste sábado (28) a Porto Alegre, onde mora, e disse que pretende continuar “incomodando as empresas de petróleo”.

A ativista foi presa junto com outros 29 integrantes do Greenpeace de diversas nacionalidades em um protesto junto a uma plataforma petrolífera no már Ártico, em setembro. Nesta semana, o governo russo decidiu conceder anistia a ela e a outros ativistas, o que permitiu a volta ao Brasil.

Jefferson Bernardes/AFP
Ana Paula Maciel, 31, chega com faixa de protesto contra a exploração de petróleo no Ártico ao aeroporto de Porto Alegre (RS)
Ana Paula Maciel, 31, chega com faixa de protesto contra a exploração de petróleo no Ártico ao aeroporto de Porto Alegre (RS)

Ana Paula fez críticas à Rússia, a quem acusa de não ser uma “democracia”, e afirmou que vai continuar “navegando” e participando de ações do tipo. “Enquanto a gente não tiver um santuário no Ártico, a gente não vai parar”, disse.

Ela foi recepcionada no aeroporto de Porto Alegre pelos pais, amigos e integrantes da ONG. Chegou ao saguão carregando um urso polar de pelúcia e uma faixa com os dizeres “Salve o Ártico”.

Em uma entrevista coletiva, relatou maus-tratos no período em que ficou presa e acusou os russos de monitorar os ativistas com escutas após a concessão da liberdade provisória.

“Os caminhões em que nos transportavam eram divididos em caixinhas de metal, de 70 por 70 cm, com buraquinhos na porta e luz apagada. Eles nos levavam para a corte nessas caixas. Quando chegávamos, nos colocavam para esperar em uma solitária de chão batido. Às vezes esperávamos 12 ou 18 horas lá.”

Ana Paula lembrou que era comum ser algemada nas idas a audiências na Justiça e que, na cela, o rádio ficava ligado com música alta o tempo todo.

Quando o caso ganhou mais repercussão e o governo decidiu transferir os presos para a cidade de São Petersburgo, disse Ana Paula, os ativistas passaram a ter mais direitos do que detidos comuns.

“Foram os dois meses mais difíceis da minha vida. Esse último mês, solta, em fiança, todo mundo pensou: ‘ah, ela está em um hotel, está tudo bem’. Mas a tensão era tão grande que éramos recomendados pelo coordenador legal do Greenpeace a não atravessar a rua fora da faixa de pedestres porque poderíamos ser presos de novo.”

CHORO

Ela contou que chorou muito ao fazer uma escala em Frankfurt, na Alemanha, primeiro local onde pisou após o período na Rússia. “O que aconteceu foi uma injustiça, uma covardia. Uma tentativa frustrada de acabar com a liberdade de expressão e protestos pacíficos.”

A bióloga ainda criticou na entrevista a saída encontrada pelo governo russo de concessão de anistia porque considera que não cometeu nenhum crime. Lembrou que o caso ainda não está solucionado porque o navio usado pelo Greenpeace continua retido e podem ocorrer novas investigações.

Para Ana Paula, o governo russo foi levado a prender os ativistas por pressão da petrolífera Gazprom, que, diz ela, é “um grande poder econômico e político” no país.

“A mesma ação aconteceu exatamente na mesma plataforma da mesma forma no ano passado e nada aconteceu e ninguém ficou sabendo. Agora, a Gazprom está arrependida de ter feito o que fez porque o mundo inteiro sabe dos planos dela.”

A bióloga disse que vai passar “um ou dois meses” descansando no Brasil. A família preparou um churrasco para recebê-la e pretende levá-la para passar o feriado de Ano-Novo no litoral gaúcho.

No aeroporto, os pais disseram a jornalistas que incentivam a filha a continuar suas atividades, apesar dos riscos, porque ela “está fazendo o que gosta”. Segundo o pai dela, Jaires, 57, a próxima viagem da bióloga será para a Nova Zelândia.

 

com informações folhaonline

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