Índios anunciam “morte coletiva” em Japorã

Aldeia Porto Rico. (Foto: Aty Guassu)

Aldeia Porto Rico. (Foto: Aty Guassu)

SITUAÇÃO DRAMÁTICA

Primeiro se faz necessário questionar quem são os reais invasores: os índios ou os latifundiários? Na sequência, precisamos compreender que o povo indígena tem sua história e, não se localizam nas críticas de uma lógica cristã. Há ainda que considerar que a incompetência estatal referida por muitos, ao que parece, está diretamente vinculada à lógica do modo de produção capitalista, a qual nega a diferença e impõe o lucro como critério para se balizar a produção. Nesta lógica, o modo de produção das populações indígenas perde o sentido e, se produz a necessidade da permanência das invasões a terras indígenas, em busca de garantir o agronegócio, como sendo o único modo legítimo de se produzir.

Se o próprio Brasil é uma invenção posterior à existência dos indígenas nessas terras, então como dizer que eles devem se enquadrar nas leis da federação? Imagine alguém que invada sua casa e por força de armas imponha uma cultura completamente diferente e que você aceite e se submeta, pois agora você integra um Estado e uma nação. Estado com regras que não contemplam suas crenças, nação que não fala seu idioma e não entende seu modo de vida em “crescer”, “produzir” e “cultivar” .Tem outro conceito para os indígenas, como propor que entrem no sistema de produção comercial, se naquela cultura não faz sentido acumular?Como parte do ecossistema, não faz sentido explorá-lo além do necessário para a subsistência, pois explorar demasiado a terra é explorar a si mesmo.

Os  índios são coletores, conhecem e respeitam profundamente os ciclos da natureza. Sua cultura e sobrevivencia depende da integridade da biodiversidade. Nômades, precisam de extensas áreas para coletar, caçar e pescar sem cansar os destruir o ecossistema. Veneram a terra onde morreram seus antepassados. Nossa agricultura e pecuária detona o meio ambiente a diversidade e contamina os lençoes freáticos com resíduos da produção. Some o uso indiscriminado de agrotóxicos para o plantio predatório e a utilização indiscriminada de hormônios e antibioticos, nos campos de concentração, tortura e morte de animais. Não reproduza a violência simbólica que hipnotiza o imaginário para manter privilégios de uma classe dominante.

A MORTE COMO DEFESA

Apesar das quatro ordens da Justiça Federal de Naviraí, expedidas na quinta-feira (12), e que obrigam os cerca de 4 mil indígenas a desocuparem fazendas do Sul do Estado, os guarani-kaiowá afirmaram em carta que irão resistir e já anunciam morte coletiva.

O documento foi divulgado pelo Conselho Aty Guassu e expressa a indignação dos indígenas que vivem na região de Japorã, distante 487 quilômetros da Capital.

A terra denominada Yvy Katu é motivo de brigas judiciais há mais de 10 anos. Para os índios, as decisões favoráveis aos ruralistas significam que a “Justiça do Brasil está mandando matar todos nós índios”, afirma o texto.

Os índios afirmam que querem morrer juntos e que devem ser enterrados no mesmo local e a decisão é definitiva. “Solicitamos ainda à presidenta Dilma, à Justiça Federal que decretou a nossa expulsão e a morte coletiva para assumir a responsabilidade de amparar e ajudar as crianças, mulheres e idosos sobreviventes aqui no Yvy Katu que certamente vão ficar sem pai e sem mãe após a execução do despejo pela força policial”, expõe a carta.

Diante da afirmativa de que irão lutar e resistir ao envio de forças policiais que devem ser encaminhadas ao local para cumprir as ordens da Justiça, os guarani explicam que deram início a um ritual religioso raro que diz respeito a despedida da vida da terra.

Uma das lideranças da região, Estevão Freitas, 47, disse ao Campo Grande News que os rituais estão sendo praticados por todos os indígenas e que se resumem a rezas. “Estão todos preparados, nos cremos nisso e começamos a nos preparar para deixar a vida. Tudo isso por causa das armas de fogo dos brancos”, explica o líder.

O conselho encerra a carta dizendo que os índios não irão recuar e que preferem morrer no campo de batalha.

 

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