‘Mais pobre’, Corinthians reduziu oferta a família de Kevin em 75%; leia entrevista exclusiva com pai do garoto

O drama dos corintianos presos em Oruro, Bolívia, teve um desfecho feliz para os torcedores no último sábado. …

O drama dos corintianos presos em Oruro, Bolívia, teve um desfecho feliz para os torcedores no último sábado. As cinco pessoas que continuavam detidas – outras sete já haviam sido liberadas em junho – desembarcaram no Brasil e reencontraram seus familiares depois de quase seis meses exilados. Os 12 torcedores foram mantidos prisioneiros pela justiça boliviana acusados de terem disparado o sinalizador que em 20 de fevereiro deste ano matou o jovem Kevin Beltrán Espada, de 14 anos, durante partida da Copa Libertadores, entre San Jose e Corinthians. A justiça boliviana concluiu que não existe prova contra os acusados.

O drama da família Beltrán continua. Muitas promessas foram feitas aos parentes de Kevin depois da tragédia de Oruro, mas pouco se cumpriu.

Neste momento, nenhuma pessoa está presa acusada de participar do crime. Durante as investigações sobre o assassinato, um garoto de 17 anos foi apresentado no Brasil como o suposto responsável. Menor de idade, o acusado não poderia cumprir pena pelo ato. O adolescente foi ouvido pela Vara de Infância e Juventude de Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo aonde reside, e o caso ainda não teve um desfecho.

“Nunca acreditei nessa versão. Apostava que um dos 12 era o culpado”, disse em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br o pai de Kevin, Limbert Beltrán.

Doações em dinheiro foram sugeridas como forma de compensar a perda da família. A CBF anunciou um amistoso com a Bolívia no dia 6 de abril, em Santa Cruz de La Sierra, cuja renda seria destinada aos Beltrán. Chegada a data do confronto, a Federação Boliviana de Futebol desmentiu a CBF e afirmou que não se tratava de um amistoso beneficente. O dinheiro arrecado seria usado para outros fins.

A federação local afirma que ainda não pagou o valor de 21 mil dólares à família Beltrán porque as contas da federação estão congeladas pela justiça.”Disseram que o Brasil viria jogar aqui pelo meu filho. O presidente da federação – Carlos Alberto Chávez Landívar – falou que não. No final, uma semana depois da partida, o presidente disse que uma parte da renda seria repassada a minha família. Até agora não vi nada”, alega Limbert.

A única ajuda recebida até aqui veio do Corinthians. Porém, segundo Limbert, o clube paulista não pagou o valor inicialmente proposto, 200 mil dólares. “Há duas semanas me procuram dizendo que dariam a ajuda, mas que os tempos tinham mudado, a economia estava diferente e que poderiam oferecer 50 mil dólares, era pegar ou largar. Não entendi, mas aceitamos.”

O Corinthians confirmou a versão.

O dinheiro prometido não vai mudar sua vida e a dos seus outros três filhos, diz Limbert. O pai de Kevin também não alimenta grandes esperanças de ver o culpado pelo assassinato atrás das grades. Ele só espera que os responsáveis pelo espetáculo do futebol aprendam alguma coisa com o que aconteceu na Bolívia.

“Os torcedores são pessoas que se sacrificam para ir ao estádio. Meu filho levou 5 horas para ir de Cochabamba ver o jogo em Oruro, ficou até as 9 da noite esperando no estádio. Veja o sacrifício que fez e para ir encontrar a morte. E ninguém se importa. Essas pessoas que se beneficiam do futebol não querem nada a não ser se beneficiar eles próprios. Eles ganham seus salários, fama e espaço na mídia graças a esses torcedores. Só peço que essas pessoas tomem alguma consciência e que isso não se repita.”

Leia na íntegra a entrevista com pai de Kevin Beltrán Espada:

ESPN.com.br: Neste sábado chegaram ao Brasil os últimos cinco torcedores acusados de participar do assassinato de Kevin liberados pela justiça boliviana. O senhor concorda com a libertação dos 12 acusados?

Limbert Beltrán: Estamos decepcionados, totalmente decepcionados. Ficamos impotentes, com sensação de que não se fez justiça correta. Obviamente todos sabem, é de conhecimento público como pressionaram a Bolívia. Teve o ministério de Justiça do Brasil, embaixada e políticos que advogaram pelos presos. No final parece que não importou a morte do meu filho, quando deveriam fazer uma investigação correta. Tentaram libertar os 12 de todo jeito. Por que libertaram os 12 agora se a partir dessa primeira investigação não fizeram nada, porque mantiveram os últimos cinco presos? Imagina que eu vá ao seu país e mate uma pessoa, acidentalmente ou não. Não há nenhum culpado, não fazem nada. Os organizadores da Copa Libertadores também não fazem nada. Cobraram uma multa de cada clube – 200 mil dólares do Corinthians e 10 mil dólares do San Jose – e pronto. Ficaram tranquilos. Não querem saber da situação da família.

ESPN.com.br: Na opinião do senhor o culpado pelo assassinato de Kevin é um dos 12 presos?

Limbert: Encontraram provas, os encontraram com os mesmo sinalizadores, eles tinham manipulado os mesmos instrumentos. Tinham provas, e isso é o que me fazia crer que entre os 12 estava o culpado.

ESPN.com.br: O senhor não acredita na versão de que um garoto de 17 anos tenha cometido o crime?

Limbert: Não acredito. Ele saiu muito bem preparado, foi muita coincidência. Um jovem arrependido, diz como fez, quando fez, tem 17 anos, não pode ser extraditado, processado. Nunca acreditei nessa versão e apostava que um dos 12 era o culpado. Bom, no final a justiça divina é o que resta. A justiça divina fará seu trabalho.

ESPN.com.br: O senhor tem notícias da situação do jovem de 17 anos apresentado como suposto autor do crime?

Limbert: Quando estive com os representantes da justiça do Brasil perguntei qual era a situação do menino, e disseram que não poderiam aplicar nenhuma infração porque ele era menor. Resumidamente, no final não vão fazer nada.

ESPN.com.br: O senhor ainda pretende dar prosseguimento ao processo?

Limbert: Vou tentar averiguar se há alguma estância, mas parece difícil. Deveria estar no Brasil, procurar advogados dai. Que chance tenho eu de ir ao Brasil? Tenho três dependentes, três crianças, a situação é mais complicada para mim. E se aqui ninguém me apoia, imagina no Brasil.

ESPN.com.br: Em algum momento sua família recebeu algum respaldo das entidades que organizam o futebol na Bolívia, no Brasil ou na América do Sul?

Limbert: Da Conmebol, que organiza o campeonato, das federações dos dois países, das ligas e dos dois clubes, não houve nenhum interesse. Nenhuma ligação a Conmebol meu fez. Imagino que cada um queira resguardar seus interesses. Mas o mais triste é que se esquecem da vida do meu filho. A morte dele não importa, e isso é o mais preocupante. Não só porque foi meu filho, mas para qualquer torcedor de qualquer pais. É o torcedor que com seus esforços, com limitações, paga sua entrada para que essas pessoas tenham seu cargos. Os torcedores são pessoas que se sacrificam para ir ao estádio. Meu filho levou 5 horas para ir de Cochabamba ver o jogo em Oruro, ficou ate as 9 da noite esperando no estádio. Veja o sacrifício que fez e para ir encontrar a morte. E ninguém se importa. Essas pessoas que se beneficiam do futebol não querem nada a não ser se beneficiar eles próprios. Eles ganham seus salários, fama e espaço na mídia por esses torcedores. Só peço que essas pessoas tomem alguma consciência e que isso não se repita.

ESPN.com.br: O Corinthians enviou a ajuda financeira que havia prometido?

Limbert: O único dinheiro que recebi foi do Corinthians. Há duas semanas me procuram dizendo que dariam a ajuda, mas que os tempos tinham mudado, que a economia estava diferente e que não seriam mais 200 mil dólares, mas 50 mil. Era pegar ou largar. Não entendi, mas aceitamos. Outras pessoas queriam que eu assinasse um documento que reconhecesse que os 12 presos eram inocentes e mediante isso as famílias dos presos dariam 30 mil dólares. Não aceitamos. Também disseram que o Brasil viria jogar aqui pelo meu filho. O presidente da federação boliviana – Carlos Alberto Chávez Landívar – falou que não. No final, uma semana depois da partida – disputada em 6 de abril deste ano -, o presidente disse que uma parte da renda seria repassada a minha família. Até agora não vi nada.

ESPN.com.br: O dinheiro doado é suficiente para resolver a situação financeira da sua família?

Limbert: O valor do meu filho não se mede por dinheiro, não tem preço: 50 mil, milhões, não tem preço. E essa ajuda me chegou tarde, gostaria que chegasse antes para poder contratar uma boa equipe de advogados. Chegou tarde. E por último, é um donativo que parece muito, vai nos ajudar em algo, mas não é grande coisa. Não é para mudar sua forma de vida, não é que do dia para a noite ficaremos ricos. O que vamos conseguir vai nos dar esse equilíbrio econômico que perdemos com a morte do meu filho. Saio duas vezes perdedor: porque perdi aquele que iluminava minha casa, um jovem, começando a viver e porque essas pessoas que estavam presas foram liberadas. Não há culpados.

 

espn

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